Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) encaminharam hoje (6) manifesto aos ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e da Fazenda, Guido Mantega, no qual defendem uma ação conjunta entre os setores público e privado para conter a queda contínua da exportação de manufaturados e a perda de competitividade da empresa nacional exportadora.
“A cada ano que passa, desde 2006, nós temos perdido mercado. Nós somos dependentes das commodities [produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado exterior], produtos sobre os quais não temos nenhum controle, nem sobre preço e muito menos sobre quantidade, e o que nós temos controle, que são os produtos manufaturados, vêm caindo anualmente [nas exportações], porque não temos competitividade nenhuma”. A declaração é do presidente da AEB, José Augusto de Castro. Ele disse à Agência Brasil que os custos aumentam ano a ano e a taxa de câmbio, na melhor das hipóteses, fica estabilizada. “A gente só está vendo um cenário negativo para manufaturados”.
Em 2006, a balança comercial de manufaturados registrava um superávit para o Brasil de US$ 5,147 bilhões. O cenário se inverteu para déficit a partir de 2007 (-US$ 9 bilhões), atingindo perda de US$ 94,136 bilhões, no ano passado. Este ano, até abril, as exportações brasileiras de manufaturados já mostram déficit de US$ 37 bilhões. E a projeção não é boa. Ela sinaliza que o déficit poderá alcançar US$ 110 bilhões até o final do ano.
O presidente da AEB destacou que, embora seja o sétimo país do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços fabricados no território, o Brasil não faz parte do rol dos 14 maiores exportadores globais, que são vendedores de manufaturados.
De acordo com dados da AEB, o Brasil chegou a ter, no ano 2000, 59% de participação de manufaturados na pauta exportadora. Hoje, tem apenas 37%. Estimativa da entidade aponta que, se o país tivesse mantido em 2012 a mesma participação de manufaturados que apresentava em 2000, geraria agora 5,1 milhões de empregos.
A consequência foi uma queda de quase 10% no número de empresas exportadoras (de 21 mil para 19 mil), enquanto a quantidade de empresas importadoras subiu 50%, elevando-se de 28,3 mil para 42,5 mil entre 2000 e 2012. O Brasil, segundo frisou Castro, está se transformando no paraíso dos importadores e está perdendo, inclusive, o mercado da América do Sul.
Castro salientou que somente um esforço conjunto dos setores público e privado pode levar à reversão desse quadro negativo das exportações brasileiras de manufaturados. “Não adianta só o setor privado reclamar, porque nós não podemos fazer nada sozinhos, enquanto o custo Brasil continua subindo”.
A AEB e a Fiergs defendem a redução imediata dos custos no país, para gerar aumento da competitividade das empresas, além de medidas referentes ao câmbio. Diminuição dos custos de pessoal e de logística foram citados como fundamentais. “Já que a gente não pode construir de uma hora para outra mais infraestrutura, porque isso vai demorar tempo, tem que haver uma forma de reduzir os custos que nós temos hoje”.
O dirigente disse que a redução do custo de energia promovida pelo governo federal foi positiva, embora o percentual para o setor industrial tenha ficado em 5%, contra os 32% previstos anteriormente. O presidente da AEB frisou ainda que, embora o governo e o setor privado queiram que as exportações brasileiras tenham maior valor agregado, “querer não é poder”. Ele esclareceu que as empresas não têm preço competitivo para exportar, em função dos custos elevados. Além disso, se baixarem os preços, acabam tendo prejuízo. “Tem que haver uma ação conjunta forte. Temos que encontrar uma solução”, reiterou.
Edição: Davi Oliveira
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