Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Embora não corra risco de morrer e esteja consciente, é grave o estado de saúde do índio terena baleado ontem (4) à tarde, durante um novo confronto ainda não esclarecido ocorrido na região de Sidrolândia (MS), onde fica a Fazenda Buriti. Um índio da mesma etnia foi morto na última quinta-feira (30), durante uma ação coordenada pela Polícia Federal (PF) para desocupar a fazenda.
Segundo o diretor técnico da Santa Casa de Campo Grande, Luis Alberto Hiroki Kanamura, o projétil que atingiu Josiel Gabriel Alves, 34 anos, continua alojado perto da sétima vértebra da coluna cervical. Médicos neurologistas especialistas em coluna aguardam os resultados da ressonância magnética e da tomografia para decidir se há possibilidade de intervenção cirúrgica e verificar se há riscos de sequelas.
Alves é primo de Osiel Gabriel, 35 anos, morto na última quinta-feira (30), durante a desocupação da Fazenda Buriti. Hoje, ele recebeu a visita do assessor do ministro da Justiça Marcelo Veiga. Técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) acompanham o atendimento a Josiel Gabriel Alves.
Segundo Otoniel Terena, irmão de Gabriel e primo de Alves, os índios se sentem injustiçados e abandonados pelo Estado brasileiro. “Um índio teve que ser morto para o governo fazer algo”, disse Otoniel à Agência Brasil, referindo-se à ida do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Mato Grosso do Sul hoje (5).
“Ficamos com uma terrível sensação de que estamos sendo injustiçados e que o governo não faz nada. O governo diz que é difícil resolver o problema, mas os fazendeiros [sul-mato-grossenses] já aceitaram vender suas terras se o governo pagar por tudo”, disse Otoniel, defendendo a indenização integral, ou seja, pela terra e benfeitorias, como solução para a disputa entre índios e produtores rurais que tenham títulos de propriedades devidamente regularizados.
De acordo com o terena, Alves foi baleado enquanto acompanhava um grupo de cerca de 100 índios que tentavam ocupar uma propriedade vizinha à Fazenda Buriti. “Os parentes não chegaram a entrar na fazenda porque foram recebidos à bala. Um dos tiros atingiu o Josiel [Alves], que continua internado. Nós agora recuamos, mas continuamos na Buriti”, acrescentou.
Ao desembarcar em Campo Grande nesta quarta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou que haja falta de vontade política ao governo federal para resolver a “complexa” questão indígena. “O governo federal cumpre a Constituição Federal, que estabelece os parâmetros do que tem que ser feito. Por isso entendemos que esta é uma questão que não depende apenas da vontade política de A, B ou C”, disse.
Edição: Juliana Andrade
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