Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Por um dia, elas se sentiram rainhas. Sob flashes e câmeras, as modelos desfilaram as últimas tendências da moda solidária no galpão de teto de amianto transformado em passarela. Opções não faltaram. Vestidos de festa, peças de tricô, bordados e roupas de praia, a criatividade das estilistas da comunidade não encontrou limites.
Dez grupos de costureiras da Estrutural, uma das cidades mais carentes do Distrito Federal, uniram forças e promoveram um desfile de moda no espaço cultural da cidade. Promovido pelo Centro de Economia Solidária Recicla Arte e Costura – Mulheres Empreendedoras da Estrutural, o evento pretende incentivar a economia solidária e fomentar o surgimento de um mercado local para as roupas produzidas na localidade.
Esse foi o terceiro desfile promovido pelas associações de costureiras. No ano passado, as entidades fizeram eventos semelhantes, inclusive um desfile de vestidos de noiva feitos de material reciclado. Mas, pela primeira vez, as apresentações deixaram de ser conceituais e envolveram a comercialização das roupas. Todas as peças foram postas à venda logo depois de estrearem na passarela.
“Não adianta montar um negócio sem garantia de retorno. Antes, é preciso buscar público para vender a produção”, diz a costureira Maria de Jesus Oliveira, 45 anos, há cinco anos numa associação que produz bordados. Segundo ela, os grupos de costureiras pretendem formalizar o negócio e montarem uma cooperativa, assim que tiverem mercado consolidado.
A lógica da economia solidária não se restringiu à produção das roupas. As roupas e os outros produtos de cada grupo participante podiam ser comprados com a moeda local, a conquista. Desenvolvida pelo Banco Comunitário da Estrutural, a moeda permite a aquisição de mercadorias com desconto nos estabelecimentos cadastrados.
“A ideia é desenvolver o comércio local e fazer com que a população gaste menos fora da cidade. O consumidor chega ao banco comunitário e troca reais por conquistas”, explica Érica Afi Hamenoo, agente de desenvolvimento do Banco Comunitário da Estrutural. Fundada há um ano com recursos de doações de pessoas físicas e entidades sociais, a instituição já fez cerca de 50 empréstimos a pequenos empresários da cidade com juros de 1% do valor total da operação. “A taxa é simbólica e só serve para a manutenção das atividades do banco”, completa Érica.
A produção de roupas mudou a vida das costureiras. Há cinco anos num grupo que produz trabalhos em patchwork (retalhos), Roza Francisca da Silva, 40 anos, passou a ter fonte própria de renda e conseguiu a independência financeira. “Antes, era apenas dona de casa e dependia do marido para tudo. Agora, posso dar o que minhas filhas precisam”, conta a costureira, que tem cinco máquinas em casa e consegue ganhar, em média, R$ 500 por mês apenas com a produção.
Ex-doméstica e limpadora de jardins públicos, Maria de Jesus diz que a principal conquista para as costureiras nem é o lucro financeiro. “O maior ganho é na sustentabilidade. Muitas mães não têm condições de deixar os filhos e trabalhar fora. Agora, elas podem conseguir o sustento na própria comunidade”, comenta a costureira, que ganha de R$ 300 a R$ 400 por mês com os bordados.
Edição: José Romildo
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