Sem-terra querem reunião com governo do DF sobre ocupação em Planaltina

04/05/2013 - 17h09

Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Muitas barracas e lonas se espalham por 132 dos 1,2 mil hectares da Fazenda Lagoa Bonita, em Planaltina, cidade do Distrito Federal (DF), ocupada desde ontem (03) por trabalhadores rurais sem terra. Eles afirmam que a propriedade, pertencente ao estrangeiro de nacionalidade alemã chamado Wlfried Karl Stoli, é grilada e que permanecerão no local até que o governador Agnelo Queiroz se reúna para tratar do assentamento das famílias no local e sobre a reforma agrária no DF e Entorno.

“Nós queremos que o governo dialogue conosco sobre esta questão, queremos tornar o processo de reforma agrária no DF pró-ativo", disse Manoel Vaz, um dos líderes do Movimento Brasileiro dos Trabalhadores Sem Terra (MBST), uma das nove organizações responsáveis pela ocupação. “Isto aqui é um terra pública, por que o Estado vai manter a posse para um estrangeiro e tirar do povo brasileiro?”, indagou.

“Espero que o Agnelo [Queiroz] tenha um pouco de coração e destitua esta terra para que os brasileiros possam produzir”, disse José Rainha, ex-líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que acompanhou a ocupação.

Rainha comparou a situação agrária no Distrito Federal à do Pontal do Paranapanema, onde atua. “O grilo aqui é igual ao Pontal. Isso pode ser constatado porque o governo não quer fazer a ação discriminatória que é dizer pra quem as terras, que são públicas, foram cedidas. Aqui parece que as concessões dadas nunca vencem”, ironizou.

Os movimentos distribuíram uma carta em que reivindicam que o Governo do Distrito Federal (GDF) promova uma ação discriminatória para provar a origem das terras do DF e entorno; a anulação das concessões de terras públicas “para grileiros brasileiros e estrangeiros” e a arrecadação de terras para assentar famílias que estão abrigadas em “lonas nas margens da estrada”.

“A ação discriminatória é uma reivindicação. As pessoas ganham uma concessão de terra e arrendam pra terceiros. A gente também quer que o governo reveja essas concessões, retirando as terras que estão nas mãos de laranjas [testa de ferro, pessoa que empresta o nome para ocultar a identidade de quem a contrata] e dando para a reforma agrária”, destacou Rainha.

A polícia esteve na fazenda pela manhã e, após conversar com os sem-terra, deixou o local. “A Polícia veio hoje e nós mostramos a documentação do Incra de que essa terra é pública. Fizemos a entrega do documento e depois eles se retiraram”, disse Carlos Lopes representante da Confederação Nacional da Agricultura Familiar e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer).

Lopes mostrou à Agência Brasil diversos documentos relativos à propriedade, inclusive um processo de reintegração de posse, datado de 2009, quando os sem terra ocuparam a fazenda, além de uma solicitação do Incra, do mesmo período, para que Wlfried Karl Stoli apresentasse a documentação de posse do terreno. De acordo com os sem terra, os documentos solicitados nunca foram entregues. “O Incra já informou ao juiz que esta terra é pública e que deve ser destinada à reforma agrária”, observou. A reportagem tentou, sem sucesso, contatar o Incra para checar as informações.

Os sem-terra criticaram a morosidade do Judiciário a respeito dos processo relativos à reforma agrária que aguardam uma decisão. “Existem mais de 30 fazendas destinadas à reforma agrária pendentes de julgamento por parte do Judiciário que poderiam chegar a mais de 1 milhão de hectares”, disse Lopes. “Um dos passos é ver se a gente consegue falar com o Judiciário. Mas infelizmente, a gente só consegue chamar a atenção quando ocupa a terra”, reclamou.

De acordo com as lideranças 450 famílias de trabalhadores rurais sem terra estão na fazenda. A ocupação é organizada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento Luta pela Terra (MLT), do Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais (MATR), do Movimento Brasileiro dos Trabalhadores Sem Terra (MBST), e da Federação da Agricultura Familiar e Empreendedores Familiares Rurais (Fafer) no Distrito Federal e em Goiás.

Edição: Denise Griesinger

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