Maioria das famílias que moram em terreno contaminado em Volta Redonda não quer deixar o local

05/04/2013 - 17h25

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A maioria das 750 famílias na localidade de Volta Grande 4, em Volta Redonda, sul fluminense, não quer sair de suas casas, mesmo sabendo que o solo está contaminado com substâncias cancerígenas. O pedido de retirada dos moradores foi divulgado ontem (4) pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A medida foi tomada por uma denúncia do Ministério Público.

A dona de casa Danuza Ferreira, que vive no bairro há 15 anos, disse que a informação sobre a contaminação do solo não pegou ninguém de surpresa. Embora reconheça que o terreno de 10 mil metros quadrados, doado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), deva ser evacuado para o bem de seus habitantes, a maioria não tem para onde ir.

“A gente já sabia que o terreno está contaminado segundo vários laudos, inclusive um feito por solicitação da própria CSN. A gente se preocupa com a nossa saúde, mas a maioria não quer sair por insegurança, por não saber para onde ir. Porque aqui muita gente construiu a casa dos sonhos e de repente falam que teremos que ser removidos. Aqui temos uma estrutura ótima, com mercado, farmácia, hospital, tudo perto”, disse.

Danuza, que é membro da Comissão Voluntária do Volta Grande 4, disse que é uma das poucas moradoras que deseja deixar o local. Segundo ela, o marido desenvolveu alergias e problemas respiratórios e a filha tem leucopenia, redução do número de leucócitos, que causa queda da imunidade, devido ao contato com produtos químicos industrializados, como cádmio e arsênico.

“Quero sair daqui sim, mas para um lugar seguro, onde a gente se sinta tranquilo e reparado. A nossa luta é conseguir agora um lugar decente para nós”, declarou.

O advogado das famílias que moram no terreno contaminado, no bairro Volta Grande 4, Igor Alexei de Castro, informou que os moradores já acionaram a CSN e pedem na Justiça reparação moral e material. Eles também reivindicam um local seguro para morar. Segundo o advogado, tanto a CSN como o Inea foram omissos durante muitos anos.

“A CSN omitiu informações e obstaculizou informações, mas temos documentos que afirmam no laudo técnico que há substâncias tóxicas acima do permitido no solo. E a antiga Feema [Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente ], que hoje faz parte do Inea, fez vista grossa e aprovou o projeto de instalação do condomínio no final dos anos de 1990, mesmo sabendo que área havia sido um depósito de resíduos tóxicos”.

A CSN informou, por meio de nota, que já fez, sob supervisão dos órgãos ambientais, mais de cinco “amplos estudos nos últimos 13 anos a respeito do bairro Volta Grande 4 e nenhum deles apontou perigo ou risco iminente à saúde dos moradores”. Na nota, a empresa declara ainda desconhecer o conteúdo do laudo divulgado ontem (4) pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio.

Até o fechamento desta matéria o Inea não havia respondido à solicitação da Agência Brasil sobre as declarações do advogado das famílias que moram no terreno contaminado.

 

Edição: Aécio Amado

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