Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Há oito anos, quando lecionava na Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef) Padre Antônio Vieira, na zona leste da cidade, a professora Maria Sueli Fonseca Gonçalves criou uma atividade para tentar cultivar em seus alunos o hábito da leitura. Surgiu então a Academia Estudantil de Letras (AEL), inspirada na tradicional Academia Brasileira de Letras.
“Como professora de língua portuguesa senti a necessidade de buscar um jeito diferente de ensinar literatura às crianças e aos jovens e que pudesse motivá-los para a leitura, de forma prazerosa, atraente, lúdica”, disse Sueli.
Em 2005, quando foi criada, a academia contava com 35 alunos: 12 deles frequentavam o último ano do ensino fundamental e ocupavam a titularidade das cadeiras de 12 autores da literatura; outros 12 passaram depois a ocupar as mesmas cadeiras dos estudantes que deixaram a escola e os demais, que estavam entre o quinto e sétimos anos, ficaram responsáveis por trazer para a academia novos autores escolhidos por eles próprios.
O projeto lúdico cresceu e se expandiu e hoje é adotado em 22 escolas municipais de São Paulo. Mas há também escolas de fora da capital, instaladas em Guarulhos (SP), Poá (SP), Ferraz de Vasconcelos (SP) e Apodi (RN), que se interessaram pelo modelo e começaram a fazer parte do projeto. “Constam ainda, na internet, registro da Academia Estudantil de Letras em Tijucas (SC) e Quixadá (CE)”, disse a idealizadora da academia em entrevista à Agência Brasil.
“É uma autêntica academia de letras. Os alunos escolhem autores da literatura para representar na AEL. São os seus amigos literários. Fazem pesquisas sobre eles, promovem seminários, participam de eventos culturais, relacionam-se com escritores e poetas, começam a produzir seus próprios textos e a participar de concursos literários”.
Nesse projeto, os alunos participam de encontros de literatura e de teatro em aulas fora do horário regular. As aulas de literatura são ministradas por professores da própria escola, tanto da primeira quanto da segunda etapas do ensino fundamental. Os professores são preparados em um curso ministrado por Sueli na Diretoria Regional de Educação Penha.
As aulas de teatro têm formato semelhante, mas são ministradas por professores habilitados em Artes Cênicas. Eles preparam os alunos para a Mostra Anual de Teatro da academia, na qual são apresentadas peças adaptadas de obras primas da literatura. Ninguém é obrigado a participar do projeto, mas segundo a professora, os alunos gostam de participar e não faltam. “É [um projeto] muito importante porque funciona. Alcançamos os objetivos traçados quase que espontaneamente”.
Segundo ela, toda a metodologia adotada no projeto é voltada para desenvolver o gosto pela leitura, “partindo da experiência e do gosto de cada um para, pouco a pouco, seduzi-los para o interesse pela literatura”. O projeto também desenvolve outros valores tais como o respeito, a convivência pacífica e harmoniosa, a solidariedade e a amizade.
Recentemente, o projeto foi apresentado no Fórum Social Mundial 2013, realizado na Tunísia. O projeto, segundo ela, também tem despertado interesse na Itália, que deseja compartilhar dessa experiência. “A leitura é essencial em todos os lugares do mundo e [transmitir] o gosto [por essa atividade para] crianças e jovens torna-se vital para o desenvolvimento de qualquer nação”, ressaltou Sueli.
Edição: Tereza Barbosa
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