Da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Moradoras da comunidade da Vila Mimosa e seu entorno, área de prostituição na região central do Rio de Janeiro, contarão agora com um projeto de inclusão socioeconômica que vai oferecer cursos de capacitação profissional e acesso a microcrédito às mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade no local. O projeto é uma parceria entre a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos com organizações não governamentais (ONGs) PlaNet Finance Brasil e Gerando Vida.
A iniciativa, denominada Projeto Bebel, foi lançada hoje (27) e terá dois anos de duração. Durante o período, cerca de 100 mulheres serão acompanhadas individualmente. Elas poderão residir ou trabalhar na região, inclusive como profissionais com outras ocupações. O nome do projeto foi inspirado em trabalho semelhante feito em Madagascar, disse a diretora executiva da PlaNet Finance Brasil, Maud Chalamet. “Em Madagascar, nós implementamos um trabalho com profissionais do sexo que se chama Giselle. Nós queríamos seguir com essa ideia”.
Para a subsecretária estadual de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, Andréa Sepúlveda Carotti, “a intenção é que as mulheres tenham sua autonomia estimulada, para que possam cada vez mais atingir a liberdade de decidir aquilo que querem ou não fazer. As que desejam se prostituir, devem ter essa liberdade de escolha. E isso também previne que elas estejam vulneráveis a questões como o tráfico de pessoas”.
O projeto terá cinco frentes de atuação. Em um primeiro momento, um grupo de trabalho será formado por representantes femininas da comunidade, que discutirão questões como o acesso à saúde, Justiça, economia e educação. A segunda etapa levantará as necessidades locais e mapeará a oferta de serviços públicos. O terceiro eixo será a capacitação das mulheres selecionadas de acordo com o levantamento. No quarto eixo as mulheres serão incentivadas a criar grupos produtivos, além de oferta de microcrédito. Por fim, haverá uma avaliação dos resultados da iniciativa.
Além dos cursos informativos e de qualificação profissional, as moradoras contarão também com acompanhamento psicológico e atendimento jurídico para mediação de conflitos. “Muitas mulheres aqui trabalham como profissionais do sexo e não são alfabetizadas, e precisam retornar à escola para poder se encaixar em um curso que requeira mais escolaridade. Temos também mulheres que pretendem abrir seu próprio negócio e não têm acesso ao crédito”, disse a coordenadora da ONG Gerando Vida, Danielle Araújo.
Cinco mulheres da comunidade foram eleitas como embaixadoras do projeto, e trabalharão como conselheiras femininas e agentes multiplicadoras da iniciativa. Uma das embaixadoras, Euzi Ramos da Costa, a Tia Euzi, de 54 anos de idade, morou 20 anos na Vila Mimosa e criou o projeto Crescer Crescer. Ela ajudava com reforço escolar e alfabetização cerca de 50 crianças que as mães não tiveram condições de criar.
“Este convite de trabalho é um desafio. Meu plano é ajudar as mulheres no que for necessário para elas, não só para a profissional do sexo, mas qualquer moradora daqui: o foco é nelas. Assim como eu tive sonhos que não foram realizados, vou incentivá-las a voltar a estudar, no trabalho que for, para que consigam se realizar”, disse Euzi.
Edição: Aécio Amado
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. É necessário apenas dar crédito à Agência Brasil