Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Alunos, pais e atletas de alto rendimento foram pegos de surpresa esta semana com o anúncio do fechamento do Parque Aquático Julio Delamare, previsto para a próxima segunda-feira (1). Reformado por R$ 10 milhões para os Jogos Pan-Americanos, em 2007, e uma das maiores instalações do tipo na América Latina, o parque será fechado para obras da Copa do Mundo.
A informação foi confirmada pela Secretaria Estadual de Esporte Lazer para atender às “necessidades da Fifa [Federação Internacional de Futebol]”. A instalação, que conta com piscina olímpica, piscina aquecida, tanque para salto e 5 mil lugares para o público, integra o complexo do Maracanã, na Tijuca, e dará lugar “a equipamentos temporários para a Copa do Mundo”, segundo informou a secretaria.
A transferência dos cerca de 5 mil alunos – a maioria deficientes físicos e idosos atendidos por projeto de incentivo ao esporte – pode ser feita para a sede do América Futebol Clube, que também fica na Tijuca, “visando a não interromper as atividades de natação”. O presidente do América, Vinicius Cordeiro, confirma que foi procurado e estuda os custos da parceria.
Usuários do Julio Delamare, no entanto, reclamam do fechamento, sem aviso prévio, e cobram mais informações. Querem ter certeza de que não serão prejudicados. “Essa piscina fez milagre na vida do meu filho, que chegou aqui em estado lamentável”, relatou a psicóloga Kátia Fernandes Louzada. O filho de Kátia, que é autista e tem hoje 15 anos, frequenta o local desde os 9 anos. “O tratamento aqui é primordial e não sei como falar porque ele que acabou”, disse.
Pai de dois alunos e usuário das piscinas, o advogado Jerônimo Machado de Souza acredita que o governo quer acabar com o projeto “Não avisaram nada, colaram um aviso na parede. Como as pessoas com filhos deficientes vão fazer? Quando deslocar daqui, dessa piscina maravilhosa, desse parque aquático maravilhoso, que já teve 10 mil pessoas, tudo acabará”.
Outro aluno que se ressentirá do fechamento do parque aquático é Francisco Lauria Filho, de 80 anos. Assíduo de aulas de natação, mesmo tendo que pegar dois ônibus, ele diz que não quer perder os amigos e pede ser transferido “Precisamos de uma piscina e de professores – que andaram faltando esse mês – mas vamos continuar”.
Com sede no Julio Delamare, a Confederação Brasileira Desportos Aquáticos também não informou para onde transferirá os treinos da seleção de saltos ornamentais e de nado sincronizado, com pelo menos 20 atletas. Entre as possibilidades, estão o Parque Aquático Maria Lenk, na Barra, e o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, na Avenida Brasil.
Atleta olímpico em Londres, Pequim e Atenas, o saltador César Castro, que treina no Julio Delamare, diz que a situação é “obscura” e cobra informações. Além de estar preocupado com a distância do centro do Rio para os locais sugeridos, César questiona o apoio ao esporte no país.
“A gente, que pretende participar da Olimpíada no Rio, se vê tendo que sair do local de treinamento, como aconteceu com outros atletas [do Estádio de Atletismo Célio de Barros, que também foi fechado para obras da Copa], não só do salto e do nado, quando imaginávamos que seria feito o melhor possível para o treinamento dos atletas brasileiros”, disse.
Segundo o Comitê Popular da Copa e da Olimpíadas, organização da sociedade civil, a demolição do Julio Delamare consta da proposta de concessão do Maracanã à iniciativa privada. A licitação está prevista para o dia 11 de abril. “O Célio de Barros é um canteiro de obras. A pista está completamente destruída, embora continuamos reivindicando que [o estádio] seja devolvido”, observou Gustavo Mehl, representante do comitê.
Edição: Lana Cristina