Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Preocupada com "evidências" de que a violência no campo vem se agravando devido à crescente disputa por terras produtivas, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) decidiu reforçar o debate em torno do assunto, promovendo um seminário internacional para discutir a situação também em outros países da América Latina.
Parte da programação do 11º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que vai até sexta-feira (8), em Brasília, o Seminário Internacional sobre a Violência no Campo conta com a participação de representantes do Chile, da Colômbia, Guatemala, do Paraguai e da Nicarágua.
Segundo a vice-presidenta e secretária de Relações Internacionais da Contag, Alessandra Lunas, a violência no campo vai além dos assassinatos ou agressões contra trabalhadores e lideranças rurais. Para ela, um problema difícil de quantificar, mesmo com o último relatório sobre conflitos no campo divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) tendo apontado crescimento de 15% nos conflitos por terra, água e por razões trabalhistas e uma diminuição, entre 2010 e 2011, de 34 para 29 assassinatos de trabalhadores rurais.
"Nossos companheiros têm relatado vários casos de despejos de famílias, enfrentamentos e até de mortes de companheiros. São relatos muito fortes que chamam a atenção para a necessidade de retomarmos a campanha contra a violência no campo, que não trata apenas dos assassinatos, mas também de casos de despejos de centenas famílias de uma área, das ameaças", disse Alessandra.
Para Alessandra, a violência no campo é reflexo do avanço do modelo agrário brasileiro, calcado no agronegócio e no cultivo de uma única espécie agrícola, a monocultura. Daí a Contag querer sensibilizar a população urbana para o que a entidade entende serem as consequências do país praticar o modelo do agronegócio, em detrimento da agricultura familiar.
“Com o campo vivendo sob a pressão dos interesses da monocultura, da mineração, da produção para exportação, a necessidade de mantermos o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), deixamos de discutir o significado social de uma família de trabalhador rural expulsa do campo e o que significa para cada pessoa que vive na área urbana”, disse Alessandra.
“A violência no campo não é um problema somente de quem vive nas áreas rurais. É importante que que quem vive nas cidades compreenda que quando a terra está concentrada na mão de poucos e as famílias de trabalhadores rurais estão sendo expulsas do campo, a própria soberania alimentar nacional é ameaçada. E a cidade também paga por isso”, disse Alessandra.
Ainda segundo Alessandra, os lucros obtidos por algumas grandes empresas do setor alimentício em plena crise financeira, quando vários outros setores vem amargando prejuízos, acaba por chamar a atenção e estimular uma corrida desenfreada pela terra no Brasil, na América Latina e na África.
“Seja pela fragilidade da nossa legislação, pelo preço da terra, que é extremamente barato em comparação com outros continentes e pelas condições de solo, chuvas e tudo o mais que nós temos. Isso, talvez, ajude a explicar o tamanho do aumento da violência no campo, no Brasil, na América Latina e na África”, acrescentou Alessandra.
Beto Coura
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