Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Em agosto de 2012, um incêndio no apartamento do marchand Jean Boghici por pouco não destruiu completamente uma das mais importantes coleções de obras de arte do país. A ação dos bombeiros e um minucioso trabalho de restauração permitiram a preservação de quase toda a coleção. Ela será mostrada, pela primeira vez em seu conjunto, no Museu de Arte do Rio (MAR), que será inaugurado hoje (1º), dia em que a cidade comemora 448 anos
Romeno radicado no Brasil desde 1949, Jean Boghici, de 85 anos, foi um pioneiro do mercado de arte no país. Ao mesmo tempo em que comprava e vendia obras, foi formando sua própria coleção, um expressivo conjunto de peças fundamentais da arte brasileira e internacional. Com curadoria de Leonel Kaz e Luciano Migliaccio, a exposição O Colecionador ocupa todo o segundo andar do Palacete Dom João VI, o pavilhão de exposições do novo museu.
“Boghici ajudou a formar entre nós o gosto do colecionismo, influenciando outros colecionadores, como Gilberto Chateaubriand e Sergio Fadel”, destaca Leonel Kaz. De forma lúdica, com uma ambientação criada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, 136 peças da coleção do marchand estão apresentadas em duas salas e nove núcleos temáticos: século 19, modernismo, surrealismo, arte espontânea, abstração informal, abstração construtiva, pintura chinesa, pintura russa e nova figuração.
“Foram os nove grandes movimentos artísticos que interessaram a Jean Boghici. O curioso é que na casa dele esses quadros ficam uns em cima dos outros. Ele mistura uma Tarsila com um Lucio Fontana, uma arte primitiva. Aqui nós mantivemos essa ideia, de deixar os quadros flutuando no ar, inclusive para respeitar a magnitude da arquitetura do prédio”, explica Kaz.
Amigo do marchand, ele acompanhou a recuperação das peças após o incêndio do ano passado. “Cerca de dez obras, que estariam nesta exposição, foram perdidas, entre elas o famoso quadro Samba, de Di Cavalcanti. No entanto, sobreviveram ao incêndio obras notáveis”, ressalta. Entre pinturas e esculturas, a exposição reúne nomes como Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Alberto Guignard, Vicente do Rego Monteiro, Rubens Gerchmann e mais 70 artistas brasileiros, além de expoentes da arte internacional, como Wassily Kandinsky, Giorgio Morandi, Lucio Fontana e Max Bill.
No primeiro andar do pavilhão, o destaque é outra importante coleção particular. A exposição Vontade Construtiva na Coleção Fadel, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Roberto Conduru, exibe cerca de 230 obras, todas produzidas por artistas brasileiros participantes dos movimentos concreto e neoconcreto, surgidos nas décadas de 1950 e 1960. São obras de Willys de Castro, Lygia Clark, Franz Weissmann, Ligia Pape, Amilcar de Castro e Helio Oiticica, entre outros.
No andar térreo, a exposição O Abrigo e o Terreno, também com curadoria de Paulo Herkenhoff, juntamente com Clarissa Diniz, reúne obras que apresentam diferentes concepções da cidade. O objetivo é discutir, por meio da arte, questões como as relações de inclusão e exclusão no contexto urbano, a constituição da propriedade e o usufruto dos espaços sociais. Obras de Antonio Dias, Bispo do Rosário, Hélio Oiticica, Waltercio Caldas e dos coletivos Ocupação Prestes Maia e Opavivará são alguns dos destaques dessa mostra.
A cidade do Rio de Janeiro terá um espaço permanente no terceiro andar, que pela concepção do projeto arquitetônico do museu é por onde o público inicia a visita. A mostra Rio de Imagens: Uma Paisagem em Construção inaugura o espaço com mais de 400 peças, entre pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, esculturas, mapas, peças de design, vídeos, instalações e até cartões postais e bandejas.
“A exposição enfatiza o imaginário que a cidade do Rio de Janeiro despertou e desperta nos visitantes, habitantes e admiradores”, explica Carlos Martins, um dos curadores da mostra. “O Rio tem montanhas, vales, rios e baías que são inigualáveis, mas o que transforma essa natureza em paisagem é o olhar de cada um”, acrescenta.
Entre os mais de 60 artistas presentes em Rio de Imagens estão Roberto Burle Marx, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Eliseu Visconti, Iberê Camargo, Ismael Nery, Pancetti e Lasar Segall. Ao lado deles há trabalhos de anônimos, que também registraram com olhar artístico a paisagem natural e a cena urbana do Rio.
Edição: Graça Adjuto
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