Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O aumento do número de blocos no carnaval de rua é um movimento que tem ligação direta com o fim da ditadura militar e a volta ao país dos exilados políticos, que viram neles uma forma legítima de voltar a ganhar as ruas da cidade. A opinião é de Rita Fernandes, presidenta da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Tereza e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Sebastiana.
A associação é formada por 12 dos principais blocos da cidade: Ansiedade, Gigantes da Lira e Imprensa que eu Gamo, de Laranjeiras; Barbas e o Bloco da Segunda, de Botafogo; Virtual, Simpatia é Quase Amor e Que merda é essa?, de Ipanema; Suvaco do Cristo, do Jardim Botânico – todos da zona sul da cidade -; Carmelitas, de Santa Teresa, e Escravos da Mauá, da Praça Mauá, todos blocos do centro da cidade.
Em entrevista à Agência Brasil, Rita disse que, embora para muitos pareça um fenômeno recente, a retomada do carnaval de rua começou na década de 1980, com a redemocratização do país, quando os primeiros blocos começaram a sair. “E aí surgiram os primeiros blocos como o Simpatia é Quase Amor e o Barbas”.
Segundo Rita Fernandes, o movimento ganhou as ruas e não parou mais de crescer. “O crescimento se deu de tal modo que já no início da década de 2000 devíamos ter cerca de 30 a 40 blocos espalhados pela cidade, alguns pouco conhecidos, mas alguns já com bastante representatividade e que angariavam uma legião de seguidores como o Simpatia e o Bola Preta – que apesar da ditadura militar nunca deixou de existir”.
Ela chama a atenção para o período de 2005, quando então o carioca começa a reconhecer e a dar a devida importância ao carnaval do Rio. “A partir daí muitos cariocas começam a ficar na cidade, a participar efetivamente do carnaval de rua e os blocos começam a crescer”.
Segundo a presidenta da Sebastiana a cidade tem hoje cerca de 500 blocos registrados, fora os que não são ainda conhecidos. São pequenos grupos de bairro que saem pelas ruas espontaneamente. “E isto voltou com tamanha força que hoje a cara do carnaval do Rio é o carnaval de rua, que é mais democrático e não exclui ninguém”.
Para Rita, o movimento gerado a partir da intensificação do carnaval de rua não tem volta. Hoje o movimento já é conhecido por todo o país e atrai turistas brasileiros e estrangeiros. “Mas é preciso que as autoridades comecem a dar maior atenção à organização desta bagunça organizada, mas ao mesmo tempo ainda desorganizada”.
Ela defende a intervenção do poder público “não sob a forma de interveniência no modo de organização dos blocos ou na restrição à sua espontaneidade, mas na organização do Carnaval como um todo: o governo precisa dar maior atenção à organização do trânsito nas ruas, à proteção ao patrimônio público, ao espaço urbano e à segurança do folião”.
Para ela, o Carnaval traz uma imagem positiva para a cidade, mas, ao mesmo tempo, leva à reflexão sobre as ações necessária por parte do poder público. “A gente vê este sucesso todo com muito orgulho, até porque fazemos e somos parte dele, mas também porque ele teve um início espontâneo, de doação para a cidade, e que acabou tendo este sucesso todo”.
A Sebastiana foi fundada em 2000 por diretores de alguns dos mais tradicionais blocos de rua da cidade e surgiu da necessidade de encontrar soluções que viabilizassem os desfiles que começavam a crescer, alguns com mais de dez mil foliões.
Patrocínios, negociação com fornecedores, estratégia de segurança para os foliões e organização de trânsito eram algumas das dificuldades enfrentadas por todos. A partir dali, a Sebastiana tornou-se um importante agente no resgate da tradição do Carnaval de rua do Rio e também um local de discussão de políticas culturais.
Edição: Tereza Barbosa
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