Carnavais latino-americanos mesclam tradições indígenas e africanas

09/02/2013 - 14h13

Leandra Felipe
Correspondente EBC

Bogotá - Os carnavais latino-americanos mesclam as tradições indígenas das civilizações pré-hispânicas com os costumes da população afrodescendente dos países da região. Alguns recebem até influência do carnaval brasileiro, considerado o maior do mundo. De um modo geral, os carnavais latino-americanos foram trazidos pelos colonizadores – na América Hispânica – pela Coroa espanhola, assim como o brasileiro chegou com os portugueses.

Nas colônias, as festas foram assimilando elementos das culturas locais, das civilizações pré-hispânicas e de comunidades que vieram depois, como os afrodescendentes. Para analistas ouvidos pela Agência Brasil, apesar das diferentes influências regionais, o carnaval na América Latina carrega uma mensagem “homogênea”.

“O carnaval é um evento que se realiza no tempo e no espaço. Independentemente das mudanças regionais, nas festas, há uma relação distinta entre as pessoas, que implica em aproximação e mudança na comunicação interpessoal”, define o professor Jorge Enrique Londoño, diretor do Instituto de Comunicação e Cultura da Universidade Nacional da Colômbia.

Londoño lembra que essas são características universais. Mesmo com as diferenças culturais, o resultado será o mesmo. “O carnaval é a celebração do riso e da quebra de valores em qualquer lugar em que se vá”, defende.

E os costumes variam bastante na América Latina. No Equador, um dos principais carnavais é o da cidade de Guaranda, capital da província de Bolívar, a quatro horas da capital, Quito. Na festa, os foliões têm o costume de brincar com água, ovos e farinha, numa farra similar à comemoração dos estudantes brasileiros aprovados no vestibular. A cidade promove também desfiles de carros alegóricos, que se apresentam ao som de músicas típicas.

A música do carnaval são as tradicionais Diabladas Equatorianas. Diferentes grupos folclóricos de outras cidades e povoados se apresentam durante a celebração. Algumas apresentações fazem oferendas a La Pachamama (Mãe Terra), em sinal de agradecimento aos favores recebidos da terra.

Na Bolívia, o carnaval mais conhecido e procurado é o Carnaval de Oruro, no estado que leva o mesmo nome. A festa foi reconhecida como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 2008.

O carnaval de Oruro mescla celebrações da religião católica e elementos da cultura indígena pré-colombiana. O carnaval da cidade começa com o pedido de bênção dos grupos folclóricos que se apresentam à Virgem del Socavón, padroeira da cidade.

No carnaval boliviano, o pássaro azul, uma espécie de cachaça feita da cana-de-açúcar, de tonalidade azulada, é bastante procurado pelos foliões. No México, o carnaval mais conhecido é o da cidade de Veracruz, no estado de mesmo nome. A festa ocorre desde 1866 e, este ano, é esperado um público de 1,3 milhão de pessoas. A festa mescla ritmos caribenhos, como a salsa e o merengue, mas também oferece programação de batucadas ao ritmo do samba brasileiro.

“Gostamos muito do carnaval do Brasil e sempre trazemos grupos de batucada. O México é fascinado pela cultura brasileira e pela simpatia dos brasileiros”, disse à Agência Brasil o presidente do Comitê do Carnaval de Vera Cruz, Anselmo Estandia.

A festa na cidade começou na terça-feira (5) com a tradição da Queima do Mau Humor. Em praça pública, uma grande fogueira é acessa para queimar o mau humor que pode atrapalhar a festa.  Depois da cerimônia, o carnaval na cidade começa oficialmente.

“A primeira coisa que temos que fazer para passar um bom carnaval é queimar o mau humor e tudo o que é negativo. Agora é hora de se dedicar somente à alegria e ao riso”, explica o organizador da festa.

Para terminar o carnaval de Veracruz é feito o enterro de Juan Carnaval, com a leitura de seu testamento, segundo os organizadores, um texto baseado no sarcasmo e na ironia, quase sempre com críticas à política mexicana

Na Colômbia, a festa em Barranquilla, capital do carnaval caribenho, também foi declarada Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco, em 2001. O carnaval de Barranquilla é considerado o segundo mais importante do mundo, depois do Rio de Janeiro.

Os pré-carnavais, em janeiro, e a coroação da Rainha do Carnaval são eventos bastante disputados na cidade. A música é a caribenha, com influência da cumbia, da puya e do mapalé, ritmos do Caribe colombiano.
 
Edição: Talita Cavalcante

Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil