Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O dinheiro investido na compra e na demolição do prédio do antigo Museu do Índio, na zona norte do Rio, que ultrapassa R$ 60 milhões, pagos pelo governo do estado, dava para investir na recuperação do imóvel. Atualmente ocupado por cerca de 20 índios, o local será esvaziado e demolido assim que o governo estadual tiver um mandado judicial.
“O governo esta comprando esse imóvel do governo federal para poder demoli-lo. Depois, vai pagar pela demolição. Ou seja, juntando essas duas quantias, é dinheiro suficiente para recuperar o imóvel, [a demolição] não faz sentido”, declarou o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Anderson Magalhães.
Segundo a Casa Civil do estado do Rio, foram pagos R$ 60 milhões pelo imóvel e estão previstos mais R$ 586 mil pela demolição, contratada pela Secretaria Estadual de Obras.
Na avaliação do professor, a desculpa do governo para justificar a demolição - de facilitar a mobilidade dos frequentadores do Estádio Jornalista Mario Filho, o Maracanã - encobre a intenção de construir um estacionamento no terreno.
“O argumento de que tem que demolir para dar vazão [aos torcedores] é furada”, disse Magalhães. “Digamos que essa é a desculpa escondida, porque o governo alega que precisa de espaço no solo para dispersão do público a pé. Mas os cálculos, dizem que não [que o prédio não atrapalha]”.
De acordo com o especialista, que fez um estudo sobre o escoamento dos torcedores para a Defensoria Pública da União (DPU) no Rio de Janeiro, é “tranquilamente” possível dispersar o público “com folga” do estádio. Ele lembra que a arena, que já recebeu 190 mil pessoas na final da Copa do Mundo de 1950, terá capacidade reduzida para 76 mil torcedores após a reforma, em maio.
A demolição do prédio pode ser decida a qualquer momento pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), que julga um recurso contrário à demolição apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro. Na ação, o procurador alega que o imóvel tem valor inestimável e deveria ser protegido.
“O prédio tem solução, as paredes foram construídas com espessura grossa e nenhuma está abalada. As lajes se assentam sobre via metálicas, coisas bastante forte. Está tudo tranquilo, o que há é uma deterioração da cobertura e esquadrias”, descreveu Magalhães, sobre o prédio, em ruínas.
Perguntado sobre a decisão do prefeito Eduardo Paes de autorizar a demolição do antigo Museu do Índio, contrariando parecer do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio, o arquiteto da UFRJ, diz que o que chama de “canetada” tem interesse políticos e é um contrassenso. Segundo ele, mesmo sob pressão, o conselho “tomou uma decisão corajosa” de manter o prédio em pé.
“É uma afronta porque o conselho tem representantes de diversos órgãos e entidades sérias, como o Instituto dos Arquitetos [do Brasil] e pessoas nomeadas pelo prefeito. Quando ele convida essas pessoas [para o conselho do patrimônio], está confiando na capacidade deles, não são técnicos recém-reformados, são pessoas com larga história na área de patrimônio”, criticou
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse hoje (15) que a decisão levou em conta o desenvolvimento no entorno do estádio e a melhoria no fluxo de pessoas. “Conselho é para aconselhar. No meu despacho, colocamos o dilema da preservação do prédio que tem algum valor histórico e o interesse da cidade. O chamado Museu do Índio é um espaço que nem preservado é”, argumentou.
Construído há 147 anos, o prédio do antigo Museu do Índio abrigou a sede do Serviço de Proteção ao Índio, antecessor da atual Fundação Nacional do Índio (Funai). De 1953 a 1977, o museu, criado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, funcionou no local até ser transferido para outro bairro.
Edição: Davi Oliveira
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