Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Mulheres com câncer de mama em estágio inicial que recebem tratamento no Brasil podem ter a mesma sobrevida de pacientes tratadas nos Estados Unidos, revelou estudo da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. O estudo, iniciado em 2011, levantou dados de pacientes diagnosticadas entre 1998 e 2001, para que pudessem ser observadas as taxas de sobrevida após 10 anos do início do tratamento.
Apesar da igualdade de chances na expectativa de vida entre as pacientes dos dois países, a falta do diagnóstico precoce faz com que a mortalidade brasileira permaneça ainda muito superior à norte-americana, explica o autor da pesquisa, René Aloísio da Costa Vieira, mastologista do Hospital do Câncer de Barretos.
O médico usou dados de cerca de 47 mil pacientes dos Estados Unidos, obtidos no programa The Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER), que representa 28% da população do país. Ele comparou com informações de 834 pacientes do Hospital do Câncer de Barretos (SP), considerado Centro de Referência de Alta Complexidade em Oncologia (Cracon), que atende basicamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e existe há 50 anos.
O levantamento mostrou que 50,1% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama nos Estados Unidos encontravam-se no estágio inicial do doença, com tumores menores do que 2 centímetros e ainda não palpáveis. No Brasil, porém, os diagnósticos nesse estágio precoce ocorreram em apenas 10% dos casos. O médico esclarece que é muito importante que a doença seja descoberta exatamente nesse ponto, de forma precoce, uma vez que as chances de cura a partir de um tratamento nesse estágio chegam a 90%.
A detecção do câncer de mama em estágios mais avançados foi observada, a partir do levantamento, em 45,8% das pacientes brasileiras e em somente 8,4% das norte-americanas. Nesse nível mais adiantado da doença, a taxa de sobrevida após 10 anos cai para apenas 17% dos casos. “No Brasil, demora-se mais para chegar ao médico e o tamanho do tumor é maior”, disse.
No mundo, os países desenvolvidos como os Estados Unidos têm uma relação de 19 mortes por câncer de mama para cada 100 pacientes diagnosticadas com a doença. Na América do Sul, essa proporção sobe para 29,8 mortes. No continente africano, a situação é ainda pior pois para cada 100 mulheres com a doença, 60 morrem.
No Brasil, ficou comprovado que a mulher com câncer de mama que for tratada sob condições ideais, como no Hospital do Câncer de Barretos, terá chances semelhantes às das norte-americanas. René Vieira citou como exemplo uma paciente que chega ao médico com tumor de mama de 2 centímetros. Estando no Brasil ou nos Estados Unidos, 10 anos depois, os resultados obtidos pela paciente serão os mesmos. “Se tratar aqui ou tratar nos Estados Unidos, teoricamente, a sobrevida é igual”.
Com base nisso, o mastologista defende o incentivo ao diagnóstico precoce, que é alcançado principalmente com exames de mamografia. Segundo ele, o diagnóstico por exames clínicos, feitos depois de a mulher ter percebido o nódulo no seio por meio do autoexame, não são capazes de reduzir a mortalidade. “Quando [a paciente] chega com um caroço ao médico, o tumor já é grande. Não vai conseguir mudar muito a evolução da doença. Ele [o autoexame] é mais para mulher se conhecer”, disse.
O ideal, portanto, é que haja incentivo à realização de exames de mamografia em larga escala, como forma de prevenção, ou seja, mesmo que a mulher não apresente qualquer sintoma da doença. “Da mesma forma que tem o papanicolau, a gente tem que estimular as mulheres, de maneria regular, uma ou duas vezes por ano, a fazer a mamografia”.
Pelos padrões norte-americano e europeu, as mulheres entre 40 e 49 anos fazem o exame anualmente e, entre 50 e 69 anos, fazem a cada dois anos. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda uma regularidade ainda maior, mulheres entre 40 e 69 anos de idade devem submeter-se ao exame uma vez por ano. Assim, para que o diagnóstico precoce dos tumores de mama se torne uma realidade no país, o sistema de saúde precisaria investir nos mamógrafos. “Precisaria melhorar a rede de mamografia”, disse o médico.
Edição: Tereza Barbosa
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