Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A escritora Heloisa Seixas sofreu durante dez anos com a doença de Alzheimer de sua mãe, Maria Angélica, e relatou a experiência no livro O Lugar no Escuro, que foi transformado em peça teatral e está em cartaz atualmente no Rio. “É uma história de terror você lidar com a presença da pessoa e, ao mesmo tempo, com sua ausência emocional, psicológica e espiritual”, resumiu Heloisa, em entrevista à Agência Brasil. Para ela, como em qualquer doença mental, é muito difícil lidar com a dissolução da personalidade. "Afeta a família toda.”
Mais que falar da doença em si, o livro trata das relações familiares. O depoimento tem emocionado as pessoas que assistem à peça. “O que eu noto, principalmente, é que as pessoas se identificam quando eu falo da minha raiva. Admito que senti raiva, revolta, que tive rancor, que aquilo fez aflorar mágoas antigas. As pessoas vêm para mim com lágrimas nos olhos para dizer que também sentiam isso, mas não tinham coragem de dizer”, conta a escritora.
Heloísa diz que é preciso aprender a conviver com a doença. “É um aprendizado dificílimo, mas há saídas, há maneiras de lidar com isso de forma suave”, disse. Segundo ela, uma dessas formas é tentar entender o que está ocorrendo, porque, em geral, as pessoas costumam negar a doença, o que torna tudo mais difícil.
Na opinião da escritora, o estigma que envolve a doença de Alzheimer é o mesmo de qualquer doença mental. “Os parentes têm dificuldade de lidar com isso, têm vergonha.” Por isso, é importante aprender a conviver com certos constrangimentos que o doente de Alzheimer pode causar no dia a dia. Ela ressalta, porém, que, diferentemente do que ocorria dez anos atrás, quando sua mãe começou a apresentar sinais da doença, hoje há uma consciência maior do problema.
Edição: Tereza Barbosa
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