Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Passados dois anos das fortes chuvas que provocaram enxurradas e desabamentos na região serrana fluminense, deixando 900 mortos, pouco foi feito para recuperar áreas atingidas e minimizar os impactos de um novo desastre, na avaliação de especialistas. Em meio à temporada de chuvas, que se estende até março, a recomendação é investir em abrigos e sistemas de alerta.
Após o temporal que causou tragédia e comoção, o governo federal repassou R$ 106 milhões para obras de reconstrução no estado do Rio de Janeiro. Pouco mais da metade foi liberada e R$ 47 milhões permanecem empenhados, segundo dados do Ministério da Integração Nacional. Para não perder R$ 32 milhões, o governo do estado pretende prorrogar um convênio que termina em março.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, intervenções deveriam ter sido feitas antes do período de chuvas neste verão, que começou em dezembro, como contenção de encostas, dragagem de rios e monitoramento da bacia hidrográfica, para controlar possíveis enchentes e diminuir a força das enxurradas.
“Até plantio de grama em alguns lugares seria uma medida importante e muito barata”, disse Agostinho, que coordenou visitas técnicas sobre o andamento das obras nas cidades atingidas pela tragédia nos dois últimos anos. “A região serrana teve uma melhora muito pequena em relação a tudo que precisava ser feito e continua muito frágil às chuvas”, acrescentou.
Ações na área ambiental,como o reflorestamento, para impedir que a erosão do solo se acentue e aumente a impermeabilidade do terreno continuam sendo necessárias. No relatório, de um ano atrás, o Crea-RJ também sugeria um sistema de monitoramento de dados climáticos e meteorológicos que permitisse ações mais rápidas da Defesa Civil e o conseqüente menor impacto dos problemas causados pelas chuvas sobre os moradores.
“Com o desmatamento que houve nas cabeceiras de rios na parte altas das montanhas, a tendência, quando chove muito, é a água descer com uma velocidade até 15 vezes maior a que a mesma quantidade de água descia há 40 anos, porque não encontra obstáculo”, explicou Guerreiro.
Especialista em situações de risco, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Moacyr Duarte cobra uma divulgação mais rápida dos sistemas hidrológicos e meteorológicos nas áreas de risco nos municípios. “No manejo de uma pequena cidade, precisamos saber aonde a chuva vai se formar e vai cair para concentrar atenção. Isso está melhorando, mas não é suficiente”, disse.
Na avaliação de Duarte, obras simples de engenharia como a reconstrução de pontes, das quais 10 de 62 foram entregues, também poderiam estar avançadas se a burocracia não se refletisse em atraso. Ele aponta vícios em licitações e a dificuldade de os municípios elaborarem projetos técnicos consistentes como os principais entraves para conseguir verbas federais.
De acordo com o governo do Rio, das pontes que precisavam ser reconstruídas, além das dez prontas, mais 10 serão entregues em fevereiro e 42 estão em fase de licitação.
A Secretaria Estadual de Obras alega que a magnitude da tragédia dificultou a elaboração de projetos. “As chuvas causaram grandes danos, exigindo aprofundados estudos geológicos, de sondagem e topografia”, afirma em nota. A grandiosidade do ocorrido alterou curso e vazão de rios “impossibilitando o uso de estudos até então existentes”, justifica.
Procurado, o Ministério da Integração Nacional não comentou as críticas para diminuir a burocracia na apresentação dos projetos e acelerar a liberação de recursos em desastres.
Edição: Fernando Fraga
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