Monica Yanakiew
Enviada Especial
Caracas – Mesmo que não esteja em condições de assumir o novo mandato no próximo dia 10, o presidente Hugo Chávez vai continuar governando a Venezuela com o atual gabinete. “Nada vai mudar porque é o que os chavistas querem e eles controlam todas as instituições”, disse o analista político venezuelano Luís Vicente León, presidente da consultora Datanalise. “Chávez vai ser presidente, se aparecer ou não, até decidirem o contrário”.
Chávez não aparece em público há mais de três semanas. Ele foi visto pela última vez quando embarcou para Cuba, a fim de submeter-se, no dia 11 de dezembro, à quarta cirurgia em 18 meses para a retirada de um tumor maligno na região pélvica. A última informação oficial era que o presidente venezuelano estava se recuperando da operação, mas enfrentava sérios problemas respiratórios.
Na sexta-feira (5), o vice-presidente Nicolás Maduro admitiu que Chávez talvez não consiga prestar juramento perante a Assembleia Legislativa Nacional, mas disse que isso era apenas uma “formalidade” e que ele poderia fazer o mesmo mais tarde, perante a Suprema Corte. A Constituição, segundo a interpretação dos governistas, deixa aberta essa porta.
“A oposição discorda, mas cabe à Suprema Corte dar a interpretação final e, desde 2003, ela jamais deu parecer desfavorável ao governo”, disse Leon. Na opinião dele, se Chávez não reaparecer antes do dia 10, nada mudará. “A oposição vai protestar, mas os chavistas estão unidos e se decidirem que Chávez não precisa assumir nessa data, vão conseguir”.
Em Caracas, o clima é de incerteza e proliferam os rumores. Chávez reaparecerá? Quando? Quem vai governar em nome dele? O motorista de táxi Juan Manuel Santos votou em Chávez pela primeira vez em 1999. Agora já não acredita no governo, nem na oposição. “Não sei se Chávez está morto, está se recuperando ou passeando em Dubai. Já ouvi de tudo e todos mentem, especialmente os políticos”, disse. “Só sei que sem Chávez, a Venezuela estará perdida. Não tem ninguém no governo ou na oposição para tomar o lugar dele”.
Antes de embarcar para Havana, Chávez designou o vice como seu sucessor e pediu aos venezuelanos que votassem em Nicolás Maduro para continuar a “revolução bolivariana”. Pela Constituição, se Chávez não estiver em condições de assumir o novo mandato ou de cumprir pelo menos dois terços dele, serão convocadas novas eleições. O vice, que é indicado pelo presidente, não ocupa automaticamente seu lugar.
Segundo Leon, aos chavistas não interessa realizar eleições agora. “É um risco enfrentar a saída de Chávez sem qualquer planejamento”, acrescentou, ao lembrar que nas eleições de outubro a oposição cresceu e chegou a representar ameaça à hegemonia de Chávez.
“Todo mundo fica especulando. Mas, e se Chávez aparecer no dia 10? Não é a primeira vez que dizem que ele está à beira da morte e o homem reaparece”, disse a comerciante Carla Zaragosa. O bancário Pablo Sainz só quer que acabe a incerteza. “Pior é não saber o que está acontecendo”, disse.
Edição: Graça Adjuto