Nielmar de Oliveira
Enviado Especial
Angra dos Reis (RJ) - A decisão de dormir no quarto dos pais fez com que o menino Marcos de Souza, de apenas 7 anos, escapasse do deslizamento de terra que soterrou por completo o local onde passava todas as noites.
Ainda assustado, mas ajudando o pai no trabalho de garimpar os poucos pertences que ainda poderiam ser resgatados sob os escombros, o menino contou à Agência Brasil sua visão da tragédia: “Eu estava dormindo quando minha mãe me acordou assustada e me assustando. Eu só ouvi o estrondo, antes de sairmos correndo. Eu pensei que o mundo estava acabando”, disse timidamente.
Elaine Coelho de Souza, que além de marcos tem uma menina mais nova, disse ter considerado “um milagre” o fato de que ela, o marido – o carpinteiro Antônio Alves dos Santos – e as crianças estarem vivos diante do estrago causado pela chuva.
“A sorte foi que o Marquinho estava dormindo comigo: o seu quarto [ao lado do dos pais] foi o mais atingido. Eu acordei com o estrondo e o clarão do fogo. Aí eu chamei meu marido e disse: 'acorda que o mundo está se arrasando'. Mas era esta tragédia aí. Agora a gente está pensando apenas em salvar as poucas coisas miúdas que a gente têm e que farão falta: fogão, geladeira, ferro de passar roupa. O pouco que a gente pode salvar porque o principal, inclusive a casa, já perdemos.”
A avalanche de lama, pedra e mato que desceu do morro na Rua da Caixa D’água, uma das muitas vielas de barro da localidade de Santa Rita 2, no bairro do Bracuí, na periferia de Angra dos Reis, destruiu nove casas e condenou 38 – já interditadas pela Defesa Civil.
Em todo o município, 320 pessoas estão desabrigadas e 160, desalojados. Entre os desalojados, está Cleonice Cândida dos Santos, uma das três pessoas que ficaram feridas nos desabamentos de Santa Rita. Com o marido, Josias Domingo dos Santos e a filha Joyce, de apenas 6 anos, ela morava na casa de número 211, que foi totalmente destruída em consequência de um deslizamento de terra.
“Estava na casa quando tudo veio a baixo e machuquei o pescoço e o braço. Foi tudo muito rápido. Acordei com o estrondo, mas ainda consegui retirar minha filha que estava lá dentro. O que já foi um milagre, pois tudo que eu tinha ficou soterrado e perdi minha casa”, lamentou, em meio às lágimas e incerteza do futuro.
“Agora eu estou aqui, perdida. Fui levada para o hospital para ser medicada [feriu o braço esquerdo] e quando voltei não encontrei mais ninguém. Não sei do meu marido, da minha filha, aonde vou dormir”, disse enquanto persistia a chuva que castiga a cidade desde terça-feira (1º) e que deverá continuar pelo menos até sábado.
Edição: Talita Cavalcante