Alex Rodrigues
Enviado Especial
Douradina (MS) - Filho do cacique Marcos Veron, assassinado em janeiro de 2003, Ládio Veron pede que a sociedade procure se informar sobre a situação de abandono dos índios guaranis de Mato Grosso do Sul e cobre das autoridades federais e estaduais uma solução para o conflito entre as comunidades indígenas e os produtores rurais sul-mato-grossenses.
"A gente pede para a sociedade não indigena olhar bem, analisar o sofrimento do povo Guarani Kaiowá. É alta a incidência de morte de lideranças, de crianças, de senhoras indígenas na hora dos despejos", disse Ládio à Agência Brasil e à TV Brasil, se referindo à ação de retirada dos índios de áreas ocupadas em fazendas do estado. Desocupações muitas vezes feitas à força, sem autorização judicial, e não raramente por seguranças particulares contratados pelos donos das áreas ocupadas.
"As pessoas têm que olhar [o que está acontecendo] e pressionar o governo para que a demarcação de terras indígenas saia logo", declarou Ládio, apontando o pouco conhecimento da população sul-mato-grossense sobre a realidade vivida pelos índios.
"Nós índios não queremos Mato Grosso do Sul inteiro. Não estamos pedindo mais terras além daqueles pedaços onde nossos antepassados viveram. Aqueles pedaços que são sagrados para nós porque ali estão enterrados nossos antepassados", concluiu Ládio, uma das lideranças indígenas presentes a Aty Guasu, tradicional assembleia que reúne centenas de guaranis kaiowás e guaranis nhandevas que vivem no estado e que, este ano, começou nesta quarta-feira (28).
Filho mais velho do cacique Marcos Veron, Ládio foi, segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF), um dos índios feridos pelo grupo de pistoleiros que, em janeiro de 2003, atacou o acampamento indígena. Até hoje, segundo ele, recebe ameaças de morte por lutar pelos direitos de sua comunidade.
Para Ládio, a proposta de o Estado brasileiro indenizar integralmente os donos de terras devidamente tituladas apontadas como terras tradicionais indígenas pode contribuir para que o conflito fundiário seja superado. Ele, contudo, diz que é preciso também destinar recursos para outros problemas que afetam seu povo.
"Vamos receber uma terra nua em que vamos ter que trabalhar muito para reflorestar. Então, também são necessários projetos de reflorestamento, projetos para que áreas se tornem sustentáveis. E, para isso, também os índios precisam de dinheiro", concluiu Ládio.
Edição Beto Coura