Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Os produtores baianos começaram a respirar aliviados com o início das chuvas que caem no estado desde a primeira semana deste mês. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), a situação já está normalizada em dois terços do estado, onde estão concentrados 80% do gado.
A pecuária local foi a atividade mais afetada pela estiagem em todo o Semiárido nordestino. Na Bahia, segundo João Martins, presidente da Faeb e vice presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ainda não é possível estimar as perdas. Segundo ele, em alguns municípios da região conhecida como “coração da Bahia” os produtores perderam todos os animais.
“A seca foi avassaladora. Atingiu uma região [da Bahia] pobre, onde existiam 3 milhões de cabeças de gado”, disse. Os produtores de Jacobina, por exemplo, perderam metade do rebanho que morreu ou foi vendido a preços muito inferiores aos de mercado. “Alguns produtores venderam uma vaca por R$ 600. [O preço poderia ultrapassar os R$ 2 mil por animal em boas condições]. Nossa primeira análise de prejuízo ainda não foi contabilizada. Só saberemos o volume de perdas quando as chuvas continuarem e a situação ficar estável”, disse ele.
João Martins garantiu que as pressões por mais alimentos e água já são menores no estado. Mas, ainda que as chuvas permaneçam frequentes, os impactos deixados pela seca ainda vão produtir efeitos por mais alguns meses. Com a debilidade de muitos animais, a expectativa é que a taxa de natalidade do rebanho caia, por exemplo.
Os fruticultores também calculam perdas significativas. Com a diminuição dos níveis das barragens e a redução de oferta de água dos rios, os sistemas de irrigação foram suspensos para assegurar o abastecimento de água para as pessoas. No Vale do Paraguaçu, produtores de limão e de outras frutas tiveram que desligar totalmente as bombas de captação de água.
A população da Bahia foi uma das que mais sofreu os impactos da estiagem deste ano, apontada como a pior das últimas três décadas. Mais da metade das cidades baianas (259 municípios) declararam situação de emergência. A seca causou prejuízos em todos os municípios do Semiárido nordestino, afetando 10 milhões de pessoas, segundo estimativas do Ministério da Integração Nacional.
Segundo Mozar de Araújo Salvador, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o período chuvoso na região começa entre janeiro e fevereiro, mas não será uniforme em todo o Semiárido. “Para os estados mais afetados não há uma previsão de chuva boa para este ano. No Ceará, por exemplo, só vai começar chover só em fevereiro. E mesmo que seja no período de chuva, corre o risco de não ser suficiente para resolver o problema. A probabilidade é que chova menos que a média. A situação no Rio Grande do Norte é semelhante”, explicou.
Na Bahia, Mozar explica que existem diferentes situações. “Na faixa leste, próximo ao litoral, choveu bastante. Na parte sul choveu quase o ano todo. Já no município de Irecê, região Semiárida, e em Paulo Afonso, choveu muito pouco.”
Segundo ele, a irregularidade foi resultado de uma mudança de temperatura das águas do Atlântico Norte, que estavam muito quentes, e as do Atlântico Sul, muito frias, no primeiro semestre de 2012, o que provocou deslocamento da zona de convergência intertropical para o Hemisfério Norte, reduzindo o volume de chuvas.
Edição: Andréa Quintiere