Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O primeiro show no Rio de Janeiro com artistas negros vindos de Angola, na África, completa 30 anos em janeiro de 2013. Organizado pelo sambista Martinho da Vila, depois de algumas viagens àquele país, o Canto Livre de Angola mostrou um pedaço da cultura africana jamais apresentado no Brasil e serviu de base para tantas outras manifestações artísticas de um povo com muitas semelhanças com o brasileiro.
“Os artistas fizeram apresentações também em São Paulo e Salvador e o projeto foi encantador, porque deu oportunidade para os brasileiros assistirem ao trabalho dos angolanos, coisa que nunca tinha acontecido no Brasil. Foi emocionante”, lembra Martinho da Vila.
A experiência deixou o cantor tão entusiasmado que, no ano seguinte, ele promoveu no Brasil novo encontro de músicos africanos. Desta vez, a festa recebeu o nome de kizomba. A palavra africana significa festa do povo, encontro de identidades, e teve origem nas danças dos negros que resistiram à escravidão.
“O objetivo era ter cada vez mais informações sobre a cultura africana e encontramos brasileiros também com muita curiosidade em saber o que nossos irmãos africanos produziam por lá. Então, as kizombas foram acontecendo uma vez por ano, até 1990, reunindo um público bastante diversificado”, contou Martinho, lembrando que “os shows marcaram a parte cultural do movimento negro no Brasil, hoje simbolizada pelo Festival Back2Black”.
Segundo o artista, o festival, que este ano está na quarta edição, é uma continuação das kizombas, pois nasceu da necessidade de fortalecer o contato com a música africana. Além de shows, o Back2Black reúne exposições, oficinas e debates. O sambista acredita que os shows com artistas negros podem atrair um público maior e se mostrou otimista, dizendo que tudo é uma questão de tempo.
“A disseminação da cultura negra está acontecendo paralelamente às ações afirmativas do Poder Público para a inserção do negro na sociedade, como a política de cotas, que garante a entrada em universidades, melhorando muito a autoestima dos negros. O meu sonho é que um dia a gente não precise mais dar esse tipo de entrevista nem ser militante de movimento negro”, disse.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo