Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Polícia Civil do Pará prendeu cinco suspeitos de participarem do quebra-quebra ocorrido em três frentes de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. De acordo com o superintendente regional da Polícia Civil no Xingu, Cristiano Nascimento, as prisões foram feitas a partir de fotos e filmagens feitas por seguranças do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), grupo responsável pelas obras civis relacionadas ao empreendimento.
“Essas imagens nos possibilitaram identificar cinco pessoas que participaram desses atos de vandalismo. De início eles negaram qualquer participação, mas ao verem o vídeo mudaram de estratégia e passaram a ficar calados durante o interrogatório. Essa é uma atitude típica de quem deve”, disse o delegado à Agência Brasil.
Segundo Nascimento, os cinco presos são ligados à Central Sindical Popular (Conlutas). “Mas ainda é prematuro dizer que esses atos tenham sido premeditados pela entidade”, acrescentou o superintendente da Polícia Civil. Alegando questão de segurança, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) anunciou ontem (12) a paralisação das obras de construção da usina.
A Agência Brasil ouviu o representante da Conlutas em Altamira (PA), Emiliano de Oliveira, que negou haver ligação entre os cinco suspeitos e a entidade. “Sequer os conheço. Mas vamos à Polícia Civil primeiro para saber que tipo de interrogatório foi feito, se eles foram torturados. Dependendo da situação, podemos inclusive prestar assistência jurídica para ajudá-los”, disse o dirigente.
A entidade tem feito diversas críticas públicas à forma como o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav) - que representa os trabalhadores de Belo Monte, ligado à Força Sindical – tem conduzido as negociações com o CCBM.
“Nós questionamos a forma como a campanha salarial tem sido conduzida por eles desde o início, sem debates mais amplos com os trabalhadores. Isso acabou desfocando as reivindicações e motivou uma verdadeira rebelião de base. Esses motins aconteceram de forma espontânea e foram feitos pelos próprios operários. Não se pode tachá-los de vandalismo, até porque não se sabe em que circunstâncias eles aconteceram”, disse Oliveira.
O vice-presidente do Sintrapav, Regimel Gobbo, acusa a Conlutas de, por "costume e critério", integrar movimentos desse tipo para sair na mídia e despertar o interesse de filiação por parte de sindicatos. “Eles já fizeram isso em diversas outras obras de grande porte, sempre tendo por base discursos fáceis para agradar ao público, e sempre fazendo movimentos paralelos [aos sindicatos], criando expectativas com propostas que não têm condições de avançar”, disse Gobbo à Agência Brasil.
Segundo ele, o Sintrapav coletou 7,8 mil assinaturas de trabalhadores da usina, manifestando apoio às propostas apresentadas durante as negociações com o CCBM. “Esse [quebra-quebra recente nos canteiros] foi um movimento de encapuzados. E todos sabemos que trabalhadores não se confundem com encapuzados. É outro pessoal, com outras intenções”, disse Gobbo.
Segundo o representante da Conlutas, “as assinaturas [a que Gobbo se referiu] foram recolhidas pelo Sintrapav em meio a sorteios de brindes”, não significando, de acordo com ele, qualquer manifestação de apoio às propostas.
O Sintrapav apresentou ao CCBM propostas de aumentos salariais que variam entre 15% e 33%, dependendo do tipo de função e nível salarial do trabalhador. Além disso, reivindicou que o intervalo entre os períodos de baixada [folga dada aos trabalhadores vindos de outros estados para visitarem suas famílias] diminua de seis para três meses, e que o vale-refeição passe de R$ 110 para R$ 300.
A contraproposta apresentada pelo CCBM - já recusada pela assembleia de trabalhadores - foi que os aumentos variassem entre 7% e 11%, e que o intervalo entre as baixadas diminuísse de forma progressiva [em intervalos de cinco, quatro e, por fim, de três meses]. Quanto ao vale-alimentação, o CCBM propôs um aumento de apenas R$ 40. “Como já havíamos antecipado à empresa, nenhuma dessas propostas foi aceita pelos trabalhadores”, acrescentou Gobbo.
Edição: Davi Oliveira