Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Resíduos de cadáveres jogados diretamente em lençóis freáticos, despejo de ossadas a céu aberto, covas rasas localizadas em um morro vizinho a residências e até um incinerador de ossos funcionando sem licença ambiental. Esses são alguns problemas encontrados pelas recentes vistorias realizadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em cemitérios da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo o coordenador de Combate a Crimes Ambientais do Rio de Janeiro, José Maurício Padrone, a situação dos cemitérios da região é “terrível” e coloca em risco o meio ambiente e a saúde da população.
“Os cemitérios nunca haviam sido fiscalizados. Então, a gente começou a fiscalizar e verificou muitos erros nesses cemitérios. O descarte inadequado [dos corpos e resíduos] pode colocar em risco a saúde da população, porque o necrochorume [líquido que sai do corpo] pode contaminar o solo”, disse.
As autoridades ambientais começaram a fiscalizar os cemitérios fluminenses em julho deste ano, com vistorias em três unidades de Duque de Caxias: Nossa Senhora de Belém, Tanque do Anil e Xerém. No primeiro cemitério, por exemplo, uma área foi interditada porque estava sujeita a inundações. Na sala usada para a limpeza e preparação de corpos para o funeral, o material era descartado diretamente no ralo e, consequentemente, no sistema de águas pluviais.
Em Xerém, localizado em um morro, segundo Padrone, foi constatado que crânios enterrados em covas rasas acabavam sendo desenterrados e rolavam para as casas localizadas na parte de baixo.
Ouvido pela Agência Brasil, o secretário municipal de Meio Ambiente de Duque de Caxias, Samuel Maia, disse que, se o Inea fizer vistorias em todo o estado, vai encontrar irregularidades nos cemitérios dos 92 municípios fluminenses.
“A grande maioria dos cemitérios tem mais de 50 anos. Na visão cristã, você coloca o corpo embaixo da terra e ele se decompõe. Há uma quantidade enorme de líquido que sai dali, o necrochorume. E aquilo vai para o lençol freático. E geralmente os cemitérios eram feitos em locais inapropriados, próximos a locais de residências”, disse.
Quanto ao descarte inadequado de corpos, Maia diz que, muitas vezes, isso é provocado por ladrões de túmulos, que arrombam o local para roubar pertences e depois descartam os cadáveres de qualquer jeito. Além disso, segundo ele, algumas empresas particulares que administram cemitérios exumam corpos e os descartam de qualquer jeito para abrir espaço para novas vagas.
Maia conta que, no ano passado, agentes da prefeitura de Duque de Caxias interceptaram um caminhão com ossos humanos, oriundos de um cemitério do Rio de Janeiro, para serem jogados em um terreno baldio da zona industrial do município.
Em setembro, as autoridades ambientais do estado fizeram nova fiscalização, desta vez no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, um dos principais da cidade do Rio de Janeiro, e no crematório que funciona no local.
Inúmeras irregularidades foram encontradas, como despejo de ossada de forma ilegal, armazenamento irregular no ossuário com indícios de produção de necrochorume despejado nas águas pluviais e indícios de exumação de corpos com menos de três anos para queima. O incinerador foi lacrado porque não tinha licença ambiental para funcionar. Dois administradores do cemitério foram presos.
Segundo Padrone, as fiscalizações em cemitérios do Rio de Janeiro vão continuar porque há uma preocupação com a situação em que estão essas instalações. A Santa Casa de Misericórdia, responsável pela administração do cemitério, informou que já entregou à Secretaria do Meio Ambiente toda a documentação necessária para a retomada das atividades do incinerador, onde são cremados os ossos de corpos enterrados há mais de três anos que não são exumados a pedido da família dentro do prazo de três anos e um mês.
Edição: Juliana Andrade