Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A organização não governamental (ONG) Observatório de Favelas abriu inscrições para a nova turma da Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc), no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio. Neste ano, serão oferecidas 90 vagas para o curso de publicidade afirmativa, com habilitações em cultura digital e audiovisual. O projeto faz parte de uma parceria entre a ONG e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com patrocínio da Petrobras.
Pode participar quem estiver no segundo grau ou na universidade. Os pré-requisitos para quem quiser se inscrever são ter afinidade com as áreas de comunicação e cultura, estar cursando ou ter terminado o ensino médio e ter noções básicas de informática.
Os interessados devem enviar currículo e carta de apresentação por e-mail (selecao.espocc@gmail.com) ou entregar na sede da instituição (Rua Teixeira Ribeiro, 535 – Parque Maré) até o dia 30 de novembro. O edital pode ser encontrado no endereço http://www.espocc.org.br/programa/selecao-2013/
As aulas são gratuitas e terão início em janeiro de 2013. Para quem não é morador da Maré, será oferecida uma ajuda de custo de R$ 90. Ao final do curso, com duração de um ano (440 horas), os alunos receberão um diploma de extensão emitido pela UFRJ.
O coordenador executivo da Espocc, Luiz Henrique Nascimento, explicou que o curso pretende, principalmente, fazer com que o aluno adapte as metodologias e ferramentas da publicidade de forma criativa e participativa, visando à transformação do seu bairro, da cidade e da própria vida. “ Apostamos muito nas ações coletivas e em redes de comunicação e cultura, seja visando ao trabalho e à renda ou ao ativismo para estimular outros atores de comunicação popular e impulsionar a troca de ideias e o trabalho em parceria”.
Um dos projetos finais do curso passado deu origem ao coletivo Entre sem Bater (http://entresembater.org.br/). Trata-se de um site colaborativo que apresenta recortes da realidade de pessoas vítimas de remoções, moradores que ocupam espaços ociosos da cidade, moradores de rua e ex-detentos. O objetivo, segundo os realizadores do projeto, é provocar o diálogo e a reflexão sobre moradia e direito à cidade no Rio de Janeiro.
“O trabalho de conclusão de curso deste ano será uma campanha publicitária pela redução da violência contra jovens negros, já que dos cerca de 50 mil brasileiros assassinados ano a ano, 26 mil são jovens negros, moradores de favela”. A campanha será lançada em março de 2012, com o apoio da Anistia Internacional.
Criada em 2005, a escola se propõe a formar jovens e adultos moradores de espaços populares do Rio para que sejam comunicadores cidadãos e multiplicadores das técnicas e teorias da comunicação. Nascimento explicou que a maior ambição da Espocc é possibilitar que a favela possa construir sua própria representação sociocultural, identificar e resolver seus próprios desafios de comunicação, além de desenvolver experiências sustentáveis.
“A representação dominante não se dá conta do que a favela é. Todas as políticas públicas destinadas à favela são muito baseadas nessas representações que acabam emergenciais e superficiais”, comentou. “Por isso, queremos que a comunidade seja a protagonista nesse processo de construção de identidade e de solução de desafios”.
Ex-aluno da Espocc, Helcimar Lopes faz parte do Coletivo Raízes em Movimento, do complexo de favelas do Alemão, na zona norte, que promove o fortalecimento e a ampliação do capital social dessas comunidades, por meio de parcerias com a iniciativa privada e o governo e editais públicos.
“Lá, fiz muitos amigos, pessoal que já trabalha com ativismo social e isso abriu minha mente. Hoje tenho um olhar crítico ao ver uma propaganda, ler um artigo de jornal. Antes não tinha esse olhar”, contou Helcimar que se considera um multiplicador, pois tudo que aprende tenta passar adiante. “E é importante pôr a boca no trombone e cobrar direitos”, concluiu.
O coordenador explicou que a instituição criou recentemente uma agência modelo, composta por professores, alunos e ex-alunos que desenvolvem produtos, serviços e projetos de publicidade e audiovisual para ONGs, governos, empresas e empreendedores comerciais e culturais de espaços populares. “A própria escola é cliente da agência que cria as campanhas sobre os cursos, por exemplo, mas já temos agências de publicidade que estão de olho em nossos jovens comunicadores, já que hoje a classe C é o novo Eldorado do mercado”, acrescentou.
Fundado em 2001 por moradores da Maré, o Observatório de Favelas é uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública, localizada no conjunto de favelas.
Edição: Graça Adjuto