Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – No Dia da Criança, os três filhos da dentista Márcia Armonia, 39 anos, sabem exatamente os presentes que querem ganhar. “Eles viram os brinquedos em comerciais da televisão, vou comprar por causa do dia”, disse a mãe.
O problema, conta ela, é que os pequenos certamente brincarão pouco e logo abandonarão o brinquedo. “Isso já aconteceu um milhões de vezes. Eu brigo, mas acho que não faz efeito. Eles sempre querem mais, querem a próxima novidade”.
Segundo a doutora em antropologia e conselheira da Aliança pela Infância, Adriana Friedmann, sinais como esses apontam para uma situação cada vez mais enfrentada pelos pais: o consumismo infantil. De acordo com ela, quando uma criança deseja muito um produto vendido pela mídia, está respondendo a uma ilusão estimulada pela publicidade.
“Ela cria uma fantasia. A questão é que logo ela abandona aquele brinquedo porque a necessidade real dela é outra, que é mais um buraco emocional que tem ser preenchido, e só o pai e a mãe podem preencher.”
De acordo com Friedmann, a criança que é acometida pelo consumismo infantil torna-se angustiada, dispõe de pouca paciência para enfrentar situações que envolvam frustração e quer que as coisas se resolvam rapidamente. “Tudo tem que ser para já. Parece um pouco como uma droga. E quando ela ganha o presente, há um alívio momentâneo, mas depois ela quer de novo [outro produto]. Parece um pouco com uma droga.”
Em alguns casos, o consumismo infantil pode desencadear até mesmo doenças, como alergias, depressão, agressividade, hiperatividade, ansiedade, além de febre e irregularidades no sono. “As crianças estão vivendo uma infância muito angustiante, isso é muito sério, as consequências são enormes. Temos que olhar muito profundamente para essa questão”, disse Friedmann.
A avó e professora, Mariane Nogueira, 60 anos, prefere fazer ela mesma os presentes dos três netos. “Eu costuro, gosto mais de presentear com coisas mais significativas que brinquedos. Mas é difícil lutar contra a televisão, que é muito mais forte”, disse. Rendida, a avó foi a um shopping center em busca do brinquedo que um dos netos viu em um comercial de televisão.
Para estudar casos de abuso por parte da mídia, o Instituto Alana, organização não-governamental que avalia a publicidade infantil, fez uma parceira com a Universidade Federal do Espírito Santo para formação de um centro de pesquisa, que vai monitorar 15 canais de televisão abertos e fechados.
Segundo Mônica Xavier, assessora de mobilização do Alana, o trabalho começou no ano passado e se estenderá até o final de 2013. Durante os três anos de pesquisa, o monitoramento vai focar os comerciais veiculados nos dias que antecedem a Páscoa, o Dia da Criança e Natal, que serão comparados com as veiculações durante uma semana aleatória.
O objetivo é analisar o nível de assédio disparado pela publicidade contra as crianças. “O Código de Defesa do Consumidor, a Constituição e a Estatuto da Criança e do Adolescente deixam claro que não se pode falar com quem não tem capacidade de discernimento”.
A pesquisa, continuou a assessora, ajudará a embasar a aprovação do Projeto de Lei 5.921, que pretende proibir a publicidade para a venda de produtos infantis.
Edição: Carolina Pimentel