Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A atuação de cineastas brasileiros no exterior, dirigindo filmes em Hollywood ou no cinema europeu, pode abrir oportunidades no mercado internacional para outros profissionais do setor, como roteiristas, diretores de arte e editores de imagem e de som. A avaliação é do montador e editor de som Waldir Xavier, que durante 14 anos trabalhou na indústria cinematográfica da França, país onde vivia desde 1988 e se formou em cinema na Universidade de Paris 7.
Em Água Negra, produção norte-americana dirigida por Walter Salles em 2005, por exemplo, a fotografia foi assinada por Affonso Beato e a edição por Daniel Rezende. Robocop, que José Padilha está filmando nos Estados Unidos, também tem edição de Daniel Rezende e a fotografia é assinada por outro brasileiro, Lula Carvalho. Já Carlos Saldanha, diretor de sucessos como Rio e a Era do Gelo, teve o brasileiro Renato Falcão como diretor de fotografia em Rio.
Desde 2005, já de volta ao Brasil, Waldir Xavier trabalhou em dois filmes longa-metragem da Premiére Brasil, mostra competitiva do Festival do Rio. São eles: o drama A Coleção Invisível, de Bernard Attai, exibido em sessão de gala na noite de ontem (2) no Cine Odeon Petrobras e o documentário Margaret Mee e a Flor da Lua, de Malu de Martino, que terá a primeira exibição na mesma sala no próximo domingo (7), às 17h.
“São poucos os brasileiros nas equipes técnicas do cinema europeu. O mercado de trabalho é bastante fechado para estrangeiros”, diz Waldir Xavier. “Eu só consegui entrar porque fiz toda a minha formação em cinema lá na França”.
Além da oportunidade de trabalho, outro fator que pesou na decisão de permanecer na França, no início dos anos 90, foi a crise que atingiu o cinema brasileiro naquele período, com a extinção da Embrafilme, no governo de Fernando Collor.
As coproduções entre Brasil e França possibilitaram ao montador criar uma ligação com o cinema nacional. Em 1997, na fase de retomada da atividade cinematográfica brasileira, Xavier trabalhou em Paris para o diretor Walter Salles, na edição sonora do filme Central do Brasil. O mesmo ocorreu em 2002 com outra coprodução franco-brasileira, Madame Satã, dirigida pelo cineasta cearense Karim Aïnouz.
“Um diretor brasileiro que vai trabalhar no exterior, mesmo que o filme seja uma coprodução, muitas vezes tem a possibilidade de indicar profissionais de sua confiança para funções-chave, como a montagem e a direção de arte”, diz Xavier.
Novamente a convite de Aïnouz, ele retornará à Europa em 2013, para assinar a edição de som do mais recente filme do diretor brasileiro, Praia do Futuro, uma coprodução Brasil-Alemanha
Para Xavier, a Première Brasil do Festival do Rio cumpre bem o papel de “vitrine do cinema brasileiro”, como definem os organizadores do evento. “Sobretudo para os profissionais estrangeiros que vêm ao festival”, diz.
Xavier considera, no entanto, que ainda falta ao Brasil criar uma identidade cinematográfica em termos internacionais, a exemplo do que ocorreu com o cinema argentino. “Este é o momento do cinema brasileiro partir para uma produção mais focada na qualidade artística dos projetos do que na lógica do mercado,” avalia.
Edição: Fábio Massalli