Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O clima quente e seco não desanimou as cerca de 40 mil pessoas que, segundo a Polícia Militar, foram hoje (7) à Esplanada dos Ministérios para assistir ao desfile de Sete de Setembro, na capital federal. Uma dessas pessoas, o servidor público Francisco Caetano, de 45 anos, morador de Val Paraíso, cidade goiana localizada no Entorno do Distrito Federal, levou a família para acompanhar, de perto, a festa cívica.
“Acho sempre bacana ver o povo brasileiro, apesar de todas as dificuldades, continuar tão maravilhoso e maravilhado com os desfiles de Sete de Setembro. A gente fica feliz ao ver a forma positiva como as pessoas se manifestam enquanto as tropas passam”, disse Caetano, que estava acompanhado da mulher Lurdes Santana e do filho Vinícius. Todos vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol.
O argentino Luis Ressia, de 56 anos, acompanhado da mulher Blanca di Claudio, disse que veio a Brasília de carro apenas para assistir ao desfile.“Queríamos muito estar aqui nessa data tão especial, e ficamos muito bem impressionados com a participação dos civis no desfile. A única coisa que estranhamos foi não ver a Dilma mais próxima da população. Na Argentina, a presidenta Cristina [Kirchner] sempre se aproxima para cumprimentar as pessoas”, disse. Ressia carregava as bandeiras do Brasil e da Argentina. “Juntei as duas bandeiras porque creio muito na unidade latino americana”, disse à Agência Brasil.
Empolgado com a passagem das bandas marciais, Cauê Ticardo, de 7 anos, a todo instante gritava para quem estava ao seu lado. “Eles têm um trompete igualzinho ao que nós temos na escola salesiana”. Já o cadeirante Carlos Vieira Santanna, de 41 anos, que, pela sétima vez, assistia a um desfile de Sete de Setembro, falava de sua frustração por não saber tocar o instrumento. “Tentei muito aprender trompete. Como não aprendi, me contento em ver ele sendo tocado nessas bandas”, disse.
Satanna elogiou a organização do desfile na questão da acessibilidade das pessoas com deficiência. “Cheguei aqui com facilidade. Eles realmente deram boas condições para os cadeirantes assistirem tranquilamente às apresentações”, declarou. Facilidade que não teve alguns idosos.
Espremida em meio a dezenas de pessoas, a professora aposentada Catarina Caifa Sousa, de 62 anos, teve de apelar a um inalador, a fim de amenizar um princípio de crise de asma. “Eles não pensaram nos idosos. Sequer há uma área exclusiva para as pessoas de mais idade. O acesso até aqui foi muito difícil e, depois de chegarmos, soubemos que, para entrar na arquibancada, é preciso convite ou credencial”.
A informação foi confirmada pelo sargento Paes Barreto, responsável por coordenar a entrada e saída das pessoas em uma das arquibancadas. “De fato só entra quem tem convite, e não há local específico para os idosos. Isso tem gerado muitas reclamações”, disse.
Os idosos também sofreram muito com o calor e o tempo seco. A todo momento eles procuravam os postos de saúde. “O sol e o calor estavam muito fortes e eu havia bebido pouca água. De repente, senti falta de ar e minha vista começou a escurecer. A sorte foi que me apararam quando comecei a cair. Que pena... estava gostando do desfile”, disse à Agência Brasil o contador aposentado José Batista Santos, de 77 anos. “Ele teve apenas uma queda da pressão”, tranquilizou a médica responsável pelo posto de saúde, tenente Karolina Frauzino, enquanto aplicava soro na veia do aposentado.
Não foram apenas idosos que tiveram de ser atendidos nos postos de saúde por causa do calor e da secura. Com 13 anos de idade, André Matheus foi atendido por bombeiros após ter se sentido mal. “Senti vontade de desmaiar, mas não desmaiei. Minha mãe disse que minha mão estava gelada e que eu estava suando frio. Acho que isso aconteceu porque comi pouco no café da manhã”, disse o estudante.
Mas nem todo mundo que estava na Esplanada dos Ministérios foi para assistir ao desfile. Jercina Maria da Silva, de 65 anos, disse que aproveitou a festa cívica para ganhar algum dinheiro a fim de pagar as sua contas de água e luz, que totalizam R$ 150. “Quero aproveitar esse evento para fazer um dinheirinho vendendo geladinho de leite com frutas. Preciso pagar minhas contas”, disse a vendedora, que preparou mais de 300 dindins (sacolé) para o desfile.
O clima seco inflacionou o preço da água, principalmente no início do festejo, quando a garrafinha chegou a ser vendida a R$2. Ao final do desfile o preço já havia caído para R$1. “Eu sabia que o sol ia ser forte. Por isso vendo, além de água, chapéus”, disse a ambulante Sebastiana Moura da Silva. Ela e o filho montaram três barracas, uma delas vendia doces.
Sebastiana ressaltou que já trabalhou em mais de 15 edições do desfile de Sete de Setembro. “O problema é que agora tem muita gente vendendo coisas aqui. O aumento da concorrência acaba diminuindo nosso lucro”, lamentou a ambulante.
Edição: Aécio Amado