Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A alta dos preços de commodities como milho e soja, que já impacta o mercado mundial de carnes e alerta organizações internacionais, preocupadas com a segurança alimentar, foi a “salvação da lavoura” para os produtores da microrregião de Pato Branco, no sudoeste do Paraná.
“O prejuízo na região não foi tão impactante por causa dos preços, que estavam bons. Se os preços internacionais estivessem ruins, seria um caos”, disse Josemar Dannach Fonseca, técnico do Departamento de Economia da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná.
A estiagem afetou os cultivos mais expressivos nos 15 municípios que compõem a microrregião, principalmente Pato Branco, São João, Vitorino, Coronel Vívida, Bom Sucesso do Sul, Chopinzinho e Itapejara d´Oeste. Os produtores estimam que o prejuízo nas lavouras de milho, soja e feijão, alcança a cifra dos R$ 300 milhões, quando consideradas também as perdas de pequenas produções locais, como a do leite e pequenas culturas.
“Apenas com as três principais culturas, perdemos um total de R$ 274,5 milhões. O que ajudou a recuperar as perdas foi o preço dos produtos. Como o preço do milho e do feijão subiu, e o da soja foi às alturas, isso compensou”, avaliou Dannach.
Pelas contas do engenheiro agrônomo, entre setembro de 2011 e maio deste ano, a perda na produção de milho chegou a quase 113 mil toneladas. No caso da soja, o prejuízo foi de 266,5 mil toneladas neste mesmo período.
Dannach explicou que as perdas tiveram reflexos em todos os setores da a economia local. “Se eu não colho a soja, não vou ter dinheiro para gastar no comércio ou para fazer outros investimentos na lavoura”, destacou. Mas, diferentemente do que ocorre no Nordeste e no Sul, o abastecimento local não sofreu o mesmo impacto, já que a maior parte das pequenas culturas, como a de hortaliças, é irrigada. “Neste caso, não está faltando. Está sobrando. Podemos sustentar até 50% da merenda sem grandes problemas com produtos como o leite, hortaliças, feijão e maçã.”
O engenheiro, que considera a situação da agricultura da região ´bem estruturada`, lembrou que algumas medidas adotadas pelo governo federal contribuíram para amenizar os prejuízos. Dannach alerta, porém, que o peso desta conta ainda será sentido no futuro. “O pessoal recorreu ao dilatamento de prazo e a renegociações de dívidas. O produtor vai sentir isso mais para a frente, porque vai faltar dinheiro para plantar a nova safra. Ele deixou de pagar algumas dívidas e não entrou dinheiro”, acrescentou.
No caso de agricultores familiares que contrataram financiamento pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), existe o Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) que assegura o pagamento da operação automaticamente. “Atualmente, por exemplo, se o agricultor financia R$ 50 mil para o custeio, com uma renda estimada de R$ 15 mil, e perde a produção por motivos climáticos, o seguro cobre o valor financiado, mais uma renda de até 3,5 mil. Com a ampliação [da cobertura do seguro, anunciada no Plano Safra 2012/2013], ele poderá receber até R$ 7 mil”, destacou, em nota, a assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Outro programa é o Garantia-Safra, para agricultores de municípios em que forem detectadas perdas de, pelo menos, 50% da produção. “Para a safra 2011/2012, o valor que cada agricultor receberá é de R$ 680, pagos em quatro parcelas de R$ 160. Para participar do Garantia-Safra, é necessário que agricultores, municípios e estados tenham aderido ao fundo que destina recursos para a cobertura do seguro”.
O MDA informou que, como terceira modalidade, os produtores atingidos pela seca podem recorrer ainda ao Bolsa Estiagem. O programa repassa R$ 400, em cinco parcelas, aos agricultores que têm Declaração de Aptidão ao Pronaf e que estejam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) dos programas sociais do governo federal e que morem em municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública.
Edição: Nádia Franco