Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O economista Marcelo Cortes Neri, nomeado ontem (27) como novo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) quer que o instituto preste mais assessoramento ao governo e volte sua capacidade técnica de análise social e macroeconomia para a elaboração de políticas públicas.
“O grande objetivo do Ipea é servir melhor o Brasil através das políticas públicas”, disse à Agência Brasil. “Uma demanda grande do Ipea está presente no desenho, operacionalização e avaliação dessas políticas. Não que o instituto não faça isso, acho que dá para fazer mais e melhor”, assinalou.
Neri, que diz estar "bastante motivado", ressaltou que a independência intelectual do órgão “é uma tradição” e quer “unir os excelentes quadros” técnicos do Ipea, “que equivalem a cerca de dez departamentos de economia das universidades”, em torno de um projeto: “uma abordagem plural que torne a diversidade uma virtude, um meio para atingir objetivos maiores.”
Especialista em desigualdade social, autor de livro sobre a chamada nova classe média e dedicado ao desenho de programas locais de combate à pobreza, Marcelo Neri prometeu não impor concepções, mas ser um “instrumento” para levar as propostas do instituto ao governo. “Meu desafio pessoal não será defender as minhas ideias, mas ser um veículo para que a ideia das pessoas possa chegar aos ministérios.”
Perguntado pela Agência Brasil, se avaliava que a dinâmica da distribuição de renda, verificada na última década, estava se esgotando e era preciso rever alguns componentes (como a política de salário mínimo) e alguns limites estruturais (como a distribuição da carga tributária), Neri admitiu que “são duas questões-chave presentes no debate” e o momento é de avaliar.
“A gente já tem uma regra do salário mínimo instituída, mas é importante pensar nessa regra no futuro. A questão tributária também é importante. Eu tenho vontade de estudar, a partir dos dados dos impostos, não só regressividade e progressividade, estudar as altas rendas a partir do pagamento do imposto de renda”, disse ao salientar que o debate já é feito em think tanks (organizações que pensam sobre políticas públicas) da França e da Inglaterra.
Neri defendeu que o instituto continue a fazer pesquisas de opinião sobre a percepção da população a respeito de problemas sociais, como atendimento à saúde e segurança pública. Para ele, as pesquisas de percepção, iniciadas por seu antecessor Marcio Pochmann (2007-2012), são “agenda importante e complementar” ao trabalho tradicional do Ipea.
“Perguntar às pessoas o que elas acham, de uma forma sistemática e bem feita, pode agregar valor. São coisas que a análise econômica em geral não contempla.”
Ele ponderou que uma alternativa para viabilizar essas pesquisas seria uma parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O natural seria o IBGE desenvolver esse tipo de levantamento sobre percepções das pessoas. Agora, o IBGE tem uma agenda grande e longa e vai precisar de recursos para isso”, considerou.
“A parceria Ipea e IBGE sempre funcionou muito bem, como fazer funcionar melhor seria a minha primeira opção”, acrescentou.
Desde a preparação do governo (final de 2010) da presidenta Dilma Rousseff, Marcelo Neri discute a elaboração de políticas sociais.
A cerimônia de posse de Neri deverá ocorrer após o feriado de 7 setembro, em Brasília. Ele é o 24º presidente a assumir o Ipea (onde já trabalhou entre 1995 e 1999). Antes da nomeação, o economista chefiava o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Neri é PhD em economia pela Princeton University, onde defendeu tese sobre o mercado de trabalho brasileiro (1996).
Edição: Carolina Pimentel