Marcos Chagas
Enviado especial da Agência Brasil
Brasileia (AC) - Os moradores de Brasileia e Assis Brasil, no Acre, estão acostumados com a seca no período de agosto a outubro. O que eles temem agora é o período “das águas”, que começará em outubro a abril. Na enchente deste ano, Brasileia foi a cidade mais afetada de todo o estado pelas fortes chuvas e cerca de 6 mil dos 22 mil habitantes do município foram afetados.
Toda parte baixa da cidade foi alagada. Em alguns pontos próximos ao rio, lojas e casas foram totalmente ou parcialmente cobertas. Hoje (19), todas as lojas que sobraram no calçadão, que tem ao fundo o Rio Acre, foram interditadas pelo Ministério Público.
Mesmo assim parte dos lojistas se recusam a deixar o local mesmo vendo, ainda, a destruição que o rio causou a comerciantes vizinhos.
É o caso do dono de farmácia Licurgo Hassem. “Essa não é área de barranco, não tem perigo de desbarrancar. A área de barranco fica a 60 metros daqui”, disse o acriano de 57 anos e que nasceu na cidade.
Hassen diz que o alagamento da cidade ocorrido no início de 2012 só aconteceu porque o governo do estado não fez as obras necessárias de contenção da encosta do Rio Acre. “Eles tinham que ter colocado a contenção de cimento com concreto armado na encosta”.
Damião Borges Melo, representante do governo do Acre em Brasileia, disse que as obras de contenção das encostas na beira do rio começam em setembro.
Quanto ao período de estiagem, Licurgo Hassem disse que acompanha “visualmente”, ano a ano, o comportamento do rio. A seu ver essa não é a pior seca dos últimos anos. No sábado e manhã deste domingo choveu na cidade. Hassen acredita que a seca é um “fenômeno marcado e premeditado pela natureza que não dá para se mensurar”.
O aposentado Epaminondas Rodrigues, 73 anos, também nascido em Brasileia, é outro que acredita numa nova reedição da cheia de 2012. “Não acho que a tendência [da seca e das chuvas] seja de se intensificarem. Os campos estão verdes e não se compara à estiagem deste ano com a de 2006”, disse o aposentado.
Estudos feitos pela Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema), em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), mostra o contrário: uma tendência de estiagens e período de chuvas cada vez mais intensos.
O problema de lixo e esgoto bruto jogado diretamente no Rio Acre se repete tanto em Assis Brasil quanto em Brasileia. Em Assis Brasil o rio está praticamente seco em alguns pontos e as crianças brincam em seu leito com água que não chega ao tornozelo.
O comerciante de Assis Brasil, Júnior Melo, disse que a estiagem não é problema. "Pelo menos choveu e não há risco de queimar tudo como em 2006. A nossa preocupação é com a chuva dessa próxima invernada. Na última, praticamente toda a cidade [de 6 mil habitantes] foi afetada", disse Júnior Melo.
Na periferia de Brasileia, nos bairros de Samaúma e Leonardo Barbosa, a situação é crítica. No período das chuvas de 2012 uma parte de Leonardo Barbosa foi praticamente todo coberto pela enchente. Os dois bairros estão em um pedaço de terra cercado pela frente e por trás pelo Rio Acre.
“O medo do povo daqui é que os dois lados do rio se encontrem na próxima enchente”, disse o dono de bar, David Coelho da Silva, morador de Leonardo Barbosa. Ele admitiu que “muitos moradores dos dois bairros” estão pensando em sair de suas casas antes do período das cheias de outubro desse ano e só retornarem em abril de 2013.
Outro morador do bairro, Ivonaldo Gomes de Oliveira, disse que seu pai construiu um cômodo de 5 metros quadrados no fundo da casa já na encosta do rio. “Quando veio a cheia levou tudo. E olha que eu disse para ele não fazer aquilo”.
Nos dois bairros a reportagem constatou a existência de muito lixo – garrafas PET, plástico e panos – e esgoto bruto jogados em córregos que abastecem o Rio Acre. No meio do rio é possível ver grandes troncos de árvores, como buritis, trazidos pela última cheia, além de outras plantas.
Edição: Fábio Massalli