Da BBC Brasil
Brasília - O criador do site WikiLeaks, Julian Assange, disse hoje (19) que há uma "caça às bruxas" promovida pelos Estados Unidos contra ele. O australiano fez sua primeira aparição pública desde junho, quando se refugiou na Embaixada do Equador em Londres, na tentativa de escapar de um pedido de extradição à Suécia, onde é acusado por duas mulheres de abuso sexual.
Assange declarou temer que, se for levado para a Suécia, pode ser extraditado de lá para os EUA - onde não foi formalmente acusado, mas enfrentaria possíveis acusações de espionagem por ter revelado, pelo WikiLeaks, milhares de documentos diplomáticos confidenciais.
"Peço que [o presidente dos EUA], Barack Obama, renuncie a essa caça às bruxas de investigar e processar o WikiLeaks", disse Assange, defendendo o seu site por "lançar luz sobre os segredos dos poderosos". Ele também pediu a libertação de Bradley Manning, o soldado americano que está preso e aguarda julgamento, sob acusação de ter passado segredos militares americanos ao WikiLeaks.
Assange recebera, na última quinta-feira (16), asilo político do Equador, mas a Grã-Bretanha não lhe deu um salvo-conduto para que possa viajar ao país latino-americano. Sendo assim, está isolado na embaixada equatoriana, correndo o risco de ser preso pela polícia britânica caso deixe a representação diplomática. Simpatizantes de Assange foram à porta da embaixada protestar contra a extradição do australiano
Com isso, seu discurso hoje foi cercado de expectativa. Dezenas de simpatizantes do WikiLeaks assistiam e aplaudiam do lado de fora enquanto Assange falava por microfones da varanda da embaixada. "Obrigado por sua generosidade de espírito", disse aos simpatizantes. "Ouvi policiais [na embaixada], mas sabia que tinha testemunhas, que o mundo estaria assistindo", agregou, em referência à possibilidade de a polícia britânica entrar na embaixada para prendê-lo.
Ele também agradeceu o Equador e citou nominalmente os países da OEA [Organização dos Estados Americanos], Brasil incluído, pedindo que eles "defendam o direito ao asilo" - isso porque a OEA realizará uma reunião, na próxima sexta-feira (24) em Washington, para discutir o caso.
Horas antes, Baltasar Garzón, advogado de Assange, havia dito que seu cliente está "disposto a responder pelas acusações" que enfrenta na Suécia, mas quer "garantias" de que não será extraditado.
Para seus simpatizantes, Julian Assange é um corajoso ativista pela verdade. Para críticos, é alguém que quer atrair a atenção da mídia divulgando segredos que colocam vidas em perigo. Segundo pessoas próximas ao australiano de 41 anos, Assange é uma pessoa intensa, motivada e muito inteligente, dono de uma habilidade excepcional para decifrar códigos de informática.
Em 2006 ele criou o WikiLeaks, site que ficou famoso por publicar documentos e imagens confidenciais - a começar por imagens, divulgadas em abril de 2010, de soldados americanos matando 18 civis no Iraque. Depois disso, levou ao público milhares de documentos diplomáticos internacionais.
Mas Assange foi preso na Grã-Bretanha depois que a Suécia emitiu um pedido de prisão internacional para que o australiano responda por duas acusações de abuso sexual. Ele alega que as relações foram consensuais e se refugiou na embaixada do Equador em junho.
"[Assange] quer garantias mínimas das autoridades suecas, que não foram outorgadas", disse Garzón à imprensa, diante da Embaixada do Equador. O jurista espanhol é famoso por ter, quando desempenhava o papel de juiz em seu país, ordenado a prisão do ex-líder chileno Augusto Pinochet.
Garzón também declarou que o criador do WikiLeaks está "com espírito combativo" e "agradecido" ao povo equatoriano. Na última quinta-feira, o australiano teve seu pedido de asilo concedido pelo Equador - sob a alegação de que Assange pode ser vítima de perseguição política.
Na quarta-feira (15), o Ministério das Relações Exteriores britânico enviou um comunicado ao governo do Equador dizendo que a Grã-Bretanha estava "determinada" em cumprir sua obrigação de extraditar Assange à Suécia e que, de acordo com uma lei nacional, poderia "revogar a imunidade diplomática" da embaixada e prender o australiano no interior do prédio.
Protocolos internacionais estabelecem que territórios diplomáticos não podem ser violados pela polícia, a não ser que com a permissão do chefe da missão diplomática em questão.