Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Carlos Alberto Quaglia, dono da corretora Natimar, não sabia que os recursos repassados a parlamentares do PP, pela empresa, eram usados para lavagem de dinheiro, disse hoje (10) o defensor público-geral federal, Haman Tabosa de Moraes e Córdova durante julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a acusação do MPF, o PP recebeu R$ 1,2 milhão por meio das corretoras Natimar e Bônus-Banval. Para Córdova, o Ministério Público Federal (MPF) tem de provar, na Suprema Corte, que todo esse dinheiro foi lavado, pois foram feitas sete transferências que totalizam 6% do total repassado, ou seja, R$ 87 mil. O defensor criticou a alegação final do MPF, que passou a responsabilidade de julgar outras transferências feitas pela Natimar a outras instâncias do Poder Judiciário.
“O MPF teria de provar aqui, nesta instância, a utilização desse total de R$1,2 milhão para lavagem de dinheiro. Ele [MPF] consegue chegar a 6% e fala para Vossas Excelências [os ministros do STF] que os demais [recursos] serão julgados em outras instâncias. Entendo que Vosssas Excelências não podem aceitar que 6% da prova estejam aqui e 94% estejam fora”, argumentou Córdova, defendendo o desdobramento da ação.
Segundo o defensor, o empresário acredita que foi envolvido "maliciosamente" no esquema de lavagem de dinheiro. Córdova lembrou ainda que, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, Quaglia confirmou que nunca conheceu o publicitário Marcos Valério ou os parlamentares do PP envolvidos com o mensalão. "Ele disse que foi usado. Ele não fez parte de nenhuma lavagem de dinheiro.”
Durante a sustentação oral, o defensor público pediu ainda a nulidade do processo contra Quaglia. Córdova alegou que houve cerceamento de defesa, uma vez que o advogado de Quaglia, Haroldo Rodrigues, não foi intimado durante o andamento do processo do mensalão. Ele disse ainda que, por causa de falhas processuais no STF, o advogado não apresentou sua posição sobre as acusações do MPF contra seu cliente.
Para Córdova, a condenação para Quaglia, que tem 67 anos, acabaria com as possibilidades de o acusado viver dignamente sua velhice. “Um senhor de 67 anos vai passar 14 anos [pena máxima dos crimes pelos quais Quaglia é acusado] na prisão por causa dessas provas frágeis [apresentadas pelo MPF].”
A Natimar fechou após as denúncias.O defensor contou ainda que o empresário argentino, que vive atualmente em Santa Catarina, teve um pedido de recebimento do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC-Loas) - pensão de um salário mínimo pago pela Previdência Social a pessoas idosas e ou com deficiência, que tenham renda familiar de um quarto de um salário mínimo – negado pelo governo.
“O pedido de Loas foi negado porque o senhor Quaglia é argentino. Quais os ganhos adquiridos pelo senhor Quaglia? Ele lavou esse dinheiro todo para ficar pedindo Loas na Defensoria Pública de Santa Catarina?”, perguntou o defensor público.
Edição: Lana Cristina//O título foi alterado e a matéria foi ampliada às 18h32