Fernanda Cruz
Repórter Agência Brasil
São Paulo – A maior exposição já ocorrida na América Latina de obras do artista italiano Michelangelo Merisi de Caravaggio chega a São Paulo esta semana, depois de passar por Nova Lima, município da região metropolitana de Belo Horizonte. Na cidade mineira, a mostra começou no último dia 22 de maio e termina hoje (22).
Com o título Caravaggio e Seus Seguidores, a exposição na capital paulista ocorrerá no Museu de Arte de São Paulo (Masp) no período de 1º de agosto a 30 de setembro. No acervo estão seis telas de Caravaggio, que representam 10% dos trabalhos deixados por ele e mais 14 trabalhos de pintores caravaggescos, como são chamados os artistas influenciados pelo italiano. Entre as obras, estão as de autoria de Artemisia Gentileschi, Bartolomeo Cavarozzi, Giovanni Baglione, Hendrick van Somer e Jusepe di Ribera.
O curador do evento, Fábio Magalhães, conta que as obras Caravaggio são raras e de difícil acesso. “Um número expressivo está em igrejas, como a de São Luís dos Franceses [Roma], e não pode sair. Algumas, de difícil empréstimo, estão no [Museu] do Louvre. Tudo isso dificulta muito a organização de uma exposição de Caravaggio”, disse ele.
Além da limitação quanto ao número de obras, existe uma discussão sobre autoria envolvendo o acervo de Caravaggio. “A própria exposição debate esses temas. Há uma sala da exposição que discute porque um São Francisco de Assis em Meditação é [de autoria de] Caravaggio e outros [títulos] não são. Há uma discussão muito rica sobre o problema atributivo”, explica o curador.
Vista pela primeira vez fora da Itália, a Medusa Murtola (1597) está entre as obras reconhecidas há pouco tempo. Murtola, palavra acrescida ao título da obra, faz referência a um poeta contemporâneo de Caravaggio que tinha esse nome. Murtola havia escrito a carta mais antiga que documenta a existência da segunda Medusa feita por Caravaggio. “Essa obra recentemente ganhou importância extraordinária dentro dos estudos do Caravaggio”, disse o curador.
A obra era considerada a segunda versão de uma pintura feita por Caravaggio em que também retratava Medusa, o monstro da mitologia grega. Após 20 anos de estudos e análises, porém, Medusa Murtola ganhou status de primeira versão. De acordo com o curador, essa tela foi pintada sobre um escudo de madeira num formato convexo. Diz a lenda mitológica que o escudo refletia o olhar do mostro que transformava em pedra quem o encarasse. O instrumento serviu na defesa de Perseu, o herói da mitologia, no momento em que decapitava Medusa.
A lenda explica a insistência de Caravaggio em pintar sobre o escudo. Mas, por ser um objeto convexo, a dificuldade em executar a pintura no escudo, foi alta: “Tem que corrigir as curvas quando você olha a obra, senão o próprio convexo deforma”, explica o curador.
Com ajuda de raio-X, infravermelho e outras técnicas modernas, descobriu-se que o italiano, na verdade, desenhou na peça antes de pintá-la, algo que ele não costumava fazer. “Não era comum o Caravaggio desenhar antes de pintar, ele normalmente pintava direto sobre a tela. Nessa [Medusa Murtola] há o desenho pela dificuldade que ele sentia de reproduzir a imagem da medusa sobre o escudo”.
Por meio desse raciocínio, concluiu-se que a outra obra de Medusa feita por Caravaggio – sem necessidade de desenho antes da pintura – era a segunda versão, uma ampliação da obra do escudo.
Além do escudo, a mostra terá o Retrato do Cardeal (1600), que poderá ser apreciada pela primeira vez fora da Itália.
A exposição ficará aberta no Masp, na Avenida Paulista, de terça-feira a domingo, das 11h às 18h, Nas quintas-feiras, vai até as 20h. Os ingressos custarão R$15 a inteira e R$ 7 a meia-entrada. A entrada é gratuita para crianças até 10 anos e para as pessoas acima de 60 anos. Às terças-feiras, todo o público tem acesso gratuito.
Edição: Talita Cavalcante