Profissionais de tecnologia criam projetos de baixo custo para problemas de comunidades carentes de São Paulo

15/07/2012 - 11h43

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Falta de saneamento, endividamento e alimentação deficiente. Esses são apenas alguns dos problemas que os moradores de três comunidades carentes de São Paulo apontaram para a organização do 6º Encontro Internacional de Design para o Desenvolvimento Social (IDDS, na sigla em inglês). Com a tarefa de pensar soluções de baixo custo para esses problemas, quarenta profissionais e estudantes de diversas partes do mundo, estão imersos nessas comunidades desde o começo do mês.

Na última edição do projeto, que ocorreu em Gana, na África, os participantes criaram um protetor de mamilo que diminui as chances de transmissão do vírus HIV entre a mãe e o bebê. Para a zona rural do país, os participantes do IDDS criaram um carregador de celular de baixo custo movido à energia de bicicletas. De acordo com a organização, estima-se que 90% dos profissionais de tecnologia e design dedicam seus esforços criativos ao desenvolvimento de produtos voltados aos 10% mais ricos da população mundial.

Lucas Pinto, administrador e pós-graduando em redes digitais pela Universidade de São Paulo (USP), participa pela primeira vez do encontro e tem a responsabilidade de criar tecnologias para o desenvolvimento de agricultura urbana na comunidade de Dois Palitos, em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Após uma semana na comunidade, com uma equipe de quatro pessoas, de diferentes nacionalidades e formações, o grupo já tem propostas para a região.

“A gente coletou informações e fomos desenhando as soluções possíveis. Nós fizemos protótipos, utilizando cartolina, isopor, fita crepe, de cinco tecnologias que poderiam ser implementadas no local e convidamos os moradores para conhecer e interagir com as técnicas e opinarem sobre elas”. Dentre as tecnologias pensadas pela equipe, estão: horta vertical com processo de gotejamento, um sistema compacto para produção de plantas ornamentais e produção de módulos para encaixe nos telhados das casas que serão utilizados para plantio.

Foram formadas oito equipes de cinco pessoas cada. Além da comunidade Dois Palitos, os grupos atuam no Bairro dos Freitas, em São José dos Campos; e no Jardim Keralux, na zona oeste da capital.

O nicaraguense Mauro Perez, engenheiro eletromecânico, que também atua em Embu das Artes, faz parte do grupo que irá pensar soluções para o problema do endividamento financeiro. “Ainda estamos construindo as propostas, mas uma das soluções pensadas, inicialmente, foi criar um banco popular, administrado pela própria comunidade”, adiantou Mauro. Já Lucas Torres, estudante de engenharia mecatrônica da USP de São Carlos, está trabalhando o tema do saneamento no Bairro dos Freitas.

“O que fizemos esta semana foi diagnosticar como as pessoas se sentem em relação a isso. Muita gente desconhece para onde vai o esgoto de sua casa. A maioria das residências tem apenas fossa ou canos que levam direto para o córrego”. O grupo ainda não definiu a tecnologia a ser utilizada nesse caso, mas Torres avalia que, como se trata de um problema complexo, deve ser proposta uma solução piloto.

Miguel Chaves, organizador do IDDS Brasil 2012, disse que o encontro tem como objetivo ser o início de uma solução permanente. “Esse projeto é uma faísca. Temos a pretensão de atacar um pequeno pedaço do problema para que a tecnologia pensanda possa crescer futuramente. Em vez de reunir esses profissionais em palestras para ficarem só falando, partimos para a prática”.

Além de Gana, que sediou o evento em 2009 e 2011, os estados de Massachusetts e do Colorado, nos Estados Unidos, também foram sede do IDDS. Ao todo, 48 inovações tecnológicas foram criadas. Segundo Chaves, a ideia é reunir essas invenções em um banco de tecnologias sociais.
 

Edição: Rivadavia Severo