Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Os paulistanos estão se alimentando mal, indica um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa mostra, por exemplo, que 95% dos entrevistados – em um total de 725 pessoas – ingerem menos frutas e sucos naturais do que o recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde. A situação mais preocupante ocorre no grupo leite e derivados, no qual 100% revelam comer menos do que as três porções diárias indicadas.
“Relacionamos o consumo dos entrevistados em cada grupo alimentar com o que é recomendado pelo guia e verificamos uma situação preocupante especialmente nos grupos das frutas, leite, legumes e verduras”, disse à Agência Brasil o nutricionista Eliseu Verly Junior, autor da tese Ingestão Habitual de Alimentos entre Indivíduos do Município de São Paulo. O pesquisador explica que o guia do ministério orienta o consumo diário com a finalidade de prevenir a obesidade e as doenças dela decorrentes, especialmente as cardiovasculares.
Um dos principais alertas da pesquisa está relacionado aos adolescentes, tendo em vista que o maior percentual de inadequações de consumo ocorre nesse grupo. “Percebemos que o consumo deficiente vai se reduzindo à medida que aumenta a faixa etária”, analisou o pesquisador. No grupo de frutas e sucos naturais, por exemplo, a ingestão inadequada é verificada em 100% dos entrevistados com idade de 12 a 19 anos. Entre os idosos, o percentual cai para 86%.
Para Verly, uma alimentação precária na adolescência repercute por toda a vida. “Tanto por ser fase de crescimento, que demanda maior de vários nutrientes que estão presentes nas frutas, nas verduras, legumes de forma geral, quanto por ser uma fase de formação de hábito alimentar.”
Na comparação entre sexos, o estudo mostrou que a alimentação do homens é mais deficiente do que a das mulheres. No grupo legumes e verduras, por exemplo, 98% deles não atingem a recomendação mínima diária. Entre as mulheres, no entanto, o percentual cai para 87%. A diferença também ocorre no grupo frutas e sucos – homens (98%) e mulheres (91%).
Em relação ao consumo de feijão, no entanto, a situação é inversa. Entre os homens, 20% têm uma dieta inadequada. O percentual cresce para 40% entre as mulheres. A pesquisa mostrou ainda que o feijão está mais presente na dieta do estrato mais pobre dos entrevistados, com 30% de consumo deficiente. Entre os mais ricos, o percentual é 37%.
O consumo de carnes e ovos, por sua vez, apresenta uma situação melhor. Apenas 7% dos homens e 12% das mulheres não ingerem o mínimo recomendado. O pesquisador pondera, no entanto, que muitos excedem esse mínimo, o que também é perigoso. “O guia não fala em quantidade máxima e a gente sabe que a carne em excesso também não é uma coisa positiva. Essa análise não mostra, mas há estudos que comprovam que quase todo mundo consome acima do recomendado, que é de uma porção por dia”, declarou.
Verly esclarece que as porções mínimas diárias foram calculadas a partir do consumo calórico de cada entrevistado. “O termo mais apropriado não é falar pessoas não atingiram a recomendação de três porções diárias, por exemplo, porque uma pessoa pode precisar de três e, para outra, bastam duas”, explicou o nutricionista.
Edição: Talita Cavalcante