Carolina Pimentel*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, disse há pouco que acata a decisão do Congresso Nacional que aprovou no início da noite de hoje (22) o seu impeachment da Presidência do país. No seu pronunciamento, Lugo ressaltou que a decisão de retirá-lo do Poder representa que a democracia paraguaia foi ferida. O processo de impeachment do presidente foi aberto ontem (21) pela Câmara dos Deputados e aprovado hoje por 39 senadores.
“Estou disposto a responder com meus atos”, disse Lugo, ao fazer o pronunciamento em cadeia nacional, após a decisão dos parlamentares. Para ele, a democracia paraguaia foi desrespeitada. “Que os executores [do impeachment] saibam da gravidade de seus atos”.
Aparentando calma, Lugo criticou seus opositores, que lideraram o processo de impeachment. “Não respondo a classes políticas, ao narcotráfico, ao crime organizado. Esse cidadão [Lugo] responderá e seguirá respondendo aos chamados dos compatriotas, dos excluídos”, disse.
Fernando Lugo pediu ainda que a população manifeste sua opinião diante do resultado, porém de forma pacífica. “Aos cidadãos, que não se neguem a seu direito de manifestar sua opinião, e conclamo que as manifestações sejam pacíficas. Que o sangue dos justos não se derrame nunca mais por causa de interesses mesquinhos em nosso país”.
Desde ontem (21), milhares de pessoas, a maioria apoiadoras de Lugo, concentraram-se na praça em frente ao Congresso Nacional, onde ocorreu o julgamento político. Após o anúncio da decisão dos senadores, imagens de televisão mostraram correria dos manifestantes e também dos policiais que reforçavam a segurança.
Lugo encerrou o rápido pronunciamento dizendo ainda que deixava o comando do país pela “maior porta do país, porta do coração dos compatriotas”. “Hoje me despeço como presidente, mas não como cidadão paraguaio, e vou servir a esta nação em que ela necessitar”.
Os parlamentares responsabilizam Lugo por confronto entre camponeses e policiais que culminou na morte de 17 pessoas na semana passada, além de apoiar invasões de terra no país. O vice-presidente Federico Franco assumirá a Presidência do Paraguai.
Lugo, ex-ativista católico, nasceu no distrito de San Pedro del Paraná, a 400 quilômetros de Assunção, em 30 de maio de 1951. Licenciado em ciência da religião, foi ordenado sacerdote católico em agosto de 1977 e se transferiu posteriormente para o Equador a fim de trabalhar como missionário na Diocese de Bolívar. Em 1983, realizou estudos sobre espiritualidade e sociologia em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Em 1994, quando voltou ao Paraguai, foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II para uma das regiões mais pobres do país. Em 2004, foi aposentado pela Igreja Católica. Em março de 2006, liderou o movimento de oposição ao governo, que reuniu mais de 30 mil pessoas em frente ao Congresso. No mesmo ano, participou do lançamento do Movimento Paraguai Possível (MPP), que alavancou sua candidatura à Presidência em 2008.
Em 2010, foi detectado com câncer linfático. Passou por sessões de quimioterapia em São Paulo e em Assunção para tratar de um linfoma.
* Colaboraram Danilo Macedo (Brasília) e Renata Giraldi (Assunção)
Edição: Aécio Amado