Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Se o governo tivesse anunciado recursos para melhorar a gestão e implementação das unidades de conservação (UCs) que já existem no país teria feito um pacote ambiental mais a altura de um Dia do Meio Ambiente. A opinião é da engenheira agrônoma Maria Tereza Pádua, que integra a comissão de Parques Nacionais da União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN).
“O que a presidenta Dilma podia fazer é anunciar que, em vez de usar US$ 4 bilhões ou US$ 5 bilhões em uma hidrelétrica, vai usar esse dinheiro no sistema de conservação. Isso solucionaria os principais problemas das unidades de conservação do país”, avaliou.
Maria Tereza, que foi presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), durante a Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio92, disse que as medidas anunciadas ontem (5), pela presidenta Dilma Rousseff, consolidam “um pacote tímido para o país que está recebendo a Rio+20”.
A engenheira alerta que o governo continua repetindo “o erro eterno de não implementar essas áreas. Inclui a criação em decreto e no campo nada acontece. Ficam ali, dois fiscais brigando, sem que exista gestão da área e sem regularização”.
O resultado dessa prática, segundo ela, é a manutenção do discurso de que o Brasil tem muitas áreas protegidas. As estimativas são que 60% do território brasileiro estão em áreas protegidas, enquanto a engenheira garante que a porcentagem não passa dos 10%, sendo que “dois terços não estão implantados”.
“Muitas reservas extrativistas são [áreas de] reforma agrária e não unidades de conservação. O governo criou áreas de preservação ambiental (APAs) gigantescas em tudo quanto é lugar. Quando soma isso, parece que o Brasil tem demais. E, na prática, a verdade é outra.”
Pelas contas da ex-presidente do Ibama, os problemas de má gestão e má implementação das UCs não têm limites territoriais. Durante o anúncio do pacote ambiental, o governo disse estar próximo de cumprir a meta de proteção de 30% do território da Amazônia. Na avaliação de Maria Tereza Pádua, que também foi diretora de parques nacionais por 14 anos, o problema é que “todas as unidades, com exceção de umas dez bem implementadas na região, estão jogadas para as cucuias. O que são esses 30%? reservas extrativistas? áreas de proteção ambiental [APA]?”, questionou.
Segundo ela, a APA de cerca de 6 milhões de hectares na Ilha de Marajó não alterou as atividades na região. “Toda a Mata Atlântica e o Cerrado são reservas da biosfera. O que isso mudou em São Paulo ou em Minas Gerais?”, criticou. Maria Tereza lembra que o bioma Mata Atlântica hoje possui cerca de 7% de sua área original bastante degradada. Da Caatinga, sobraram 11% e, do Cerrado, restaram 40% da área original “em péssimo estado”.
Edição: Lana Cristina