Da BBC Brasil
Brasília - Protestos reuniram milhares de egípcios na madrugada de hoje (3), após a condenação à prisão perpétua do ex-presidente Hosni Mubarak ontem (2). As multidões, que se aglomeraram no Cairo, em Alexandria, Suez e Mansoura, pediam a pena de morte para o ex-presidente e criticavam o fato de seis importantes ministros e oficiais da era Mubarak terem sido absolvidos das acusações de participação em 850 mortes ocorridas durante o levante popular no ano passado.
A Praça Tahrir, local-símbolo das manifestações antigoverno em 2011, voltou a ser ocupada por manifestantes, que dizem que pretendem permanecer no local. Também estiveram presentes ali figuras públicas de destaque e torcedores de futebol conhecidos como Ultras, que já estiveram envolvidos em diversos confrontos políticos.
Na praça, slogans contra o governo militar egípcio voltaram a ecoar. A ira dos manifestantes no local se devia, principalmente, à absolvição dos membros das forças de segurança, o que foi visto pelos egípcios como um sinal de que poucas reformas foram implementadas desde o fim da era Mubarak.
Outros foram às ruas para expressar sua insatisfação com a atual situação política. Após o primeiro turno das primeiras eleições presidenciais livres, em maio, os egípcios agora têm de escolher, no segundo turno, entre Ahmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak, e o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi.
Em comunicado após o julgamento, a Anistia Internacional disse que a condenação de Mubarak é um passo significativo contra a impunidade no Egito. A organização acrescentou ainda que a absolvição de membros das forças de segurança “ainda deixa muitos esperando por justiça”.
Aos 84 anos e após três décadas governando o Egito, Mubarak é o primeiro entre os líderes afetados pela Primavera Árabe a ser julgado em seu país. Ele foi condenado como cúmplice na morte de 850 opositores de seu regime, durante os primeiros dias de protesto antigoverno, em 2011. Segundo o juiz do caso, Ahmed Refaat, o ex-presidente e seu ex-ministro Habib Adly falharam ao não impedir que as forças de segurança usassem armas letais contra manifestantes desarmados.
Mubarak ouviu seu veredicto com uma expressão impassível, em uma maca hospitalar e usando óculos escuros. Mas, ao ser levado ao presídio de Tora, teria tido uma “crise de saúde”, segundo a TV estatal egípcia, e foi internado no hospital da prisão.
Seus dois filhos, que enfrentavam acusações de corrupção, foram absolvidos, mas ainda serão julgados por suposta manipulação do mercado financeiro. Logo depois do veredicto de Mubarak, o país entrou em alvoroço – primeiro, muitos comemoraram a sentença, mas logo se revoltaram com a notícia da absolvição de aliados do ex-presidente. Alguns apoiadores do antigo regime, por sua vez, também protestaram contra a condenação.