Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A perda de milhares de hectares de matas nativas nas últimas décadas, consumidos pela especulação imobiliária e o processo de favelização, deixou feridas visíveis na paisagem da capital fluminense. Embora ainda exista muito verde, principalmente por causa do Parque Nacional da Tijuca, com seus 3.958 hectares de floresta, basta uma olhada rápida para ver o resultado do crescimento desordenado sobre os morros cariocas, tomados de barracos ou mesmo casas de alto padrão, encravados no meio da vegetação.
Para recuperar ou pelo menos minimizar esse quadro, a prefeitura do Rio vem investindo em um ambicioso programa de reflorestamento, que só este ano tem como meta plantar 1,137 milhão de mudas de árvores, a maior parte nativa. O objetivo é reflorestar até dezembro 455 hectares, plantando, em cada um, 2,5 mil mudas de árvores. Para isso, é utilizada a própria comunidade, por meio do Programa Mutirão, com o treinamento de moradores que se encarregam desde a produção nos viveiros até o plantio e a manutenção das mudas.
A fim de acelerar o processo, foram contratadas empresas particulares para ajudar na tarefa de reflorestar as áreas degradadas, segundo a engenheira florestal Claudia França, gerente de Reflorestamento do município. Para serem plantadas, as mudas precisam ter um tamanho mínimo de 60 centímetros e mesmo assim existe uma perda de 10% a 15%, por causa da falta de chuva, sufocamento pelo chamado capim-colonião e incêndios, favorecidos pela presença da gramínea, que cresce livremente nos morros cariocas.
“Para garantir o sucesso dessas mudas, é preciso executar as manutenções periódicas, cortando o capim em volta. Para a planta chegar a um porte aceitável, ela vai levar de quatro a cinco anos, até se tornar uma árvore jovem”, explicou Claudia França.
Além dos fatores naturais que interferem no sucesso do reflorestamento, a engenheira florestal disse que até a presença de traficantes em alguns morros atrapalhava o plantio de mudas, pois os criminosos consideravam que as árvores prejudicavam a visão do terreno e eles mesmos destruíam as mudas ou ateavam fogo para matar a vegetação. A situação só melhorou com a instalação de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas antes controladas pelo tráfico de drogas.
O secretário de Meio Ambiente do Rio e vice-prefeito da cidade, Carlos Alberto Muniz, vislumbra fechar o último ano desta administração com 1,3 mil hectares reflorestados. Até as Olimpíadas de 2016, segundo ele, serão replantados mais 500 hectares.
“Nós estamos chegando ao esgotamento de áreas públicas para reflorestar. Este ano nós estamos em negociação com proprietários de áreas para, juntos, fazermos o reflorestamento”, disse Muniz. Ele lembrou que, no passado, “a Floresta da Tijuca foi totalmente reflorestada, em um trabalho de recuperação. E hoje ela é vital para a cidade”.
Para o vice-prefeito, a cidade deve aproveitar a Rio+20 e iniciar uma grande discussão sobre o seu futuro e a qualidade de vida que se quer para as próximas gerações. “Meio ambiente não é só a questão da qualidade da água, da manutenção do verde e da disposição dos resíduos. É o lugar que a gente vive e principalmente como a gente vive. Que modelo de desenvolvimento a gente quer”, ressaltou.
Edição: Aécio Amado