Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Seis projetos de conservação ambiental que já mostram resultados em diferentes biomas do país recebem financiamento privado para expandir a experiência, graças a uma organização não governamental que une quem quer preservar a quem quer financiar. Entre os beneficiados, está uma iniciativa de conservação de 36 mil metros quadrados de Mata Atlântica em plena Curitiba.
Duas diferenças tornam a iniciativa inusitada. A primeira é que os projetos foram idealizados por cidadãos comuns que tinham como proposta a conservação de uma determinada espécie ou biodiversidade. A segunda é que são empresas privadas que estão por trás desses financiamentos.
Os elos começaram a ser formados pela organização não governamental Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). O diretor executivo da ONG, Clóvis Borges, reconhece a dificuldade em encontrar iniciativas “maduras e menos superficiais” para ajudar a financiar, mas comemora resultados como o do projeto de conservação da Mata Atlântica da paranaense Terezinha Vareschi.
Terezinha, que mora em uma área de 36 mil metros quadrados de área nativa conservada em Curitiba, contornou as pressões sofridas pela especulação imobiliária, comuns na maioria das cidades de médio e grande porte, e transformou a propriedade em Reserva Particular do Patrimônio Natural Municipal (RPPNM).
No ano passado, a paranaense conseguiu criar, com apoio de outros proprietários de áreas naturais, a Associação dos Protetores de Áreas Verdes Relevantes de Curitiba e Região Metropolitana. O grupo organiza debates para incentivar outros proprietários a protegerem seus remanescentes naturais.
Outros projetos seguem a mesma relevância. O Projeto Papagaio-verdadeiro busca a preservação da ave na planície pantaneira de Mato Grosso do Sul. Outra iniciativa quer garantir o bioma para sobrevivência do bicudinho do brejo, ave do litoral do Paraná. Na Serra da Canastra, um pesquisador transformou a comunidade em aliada para salvar da extinção o lobo-guará.
Também conservacionista, outro projeto apoiado pela SPVS, implantado no bioma da Chapada do Araripe, quer garantir o ambiente adequado para sobrevivência da ave soldadinho do Araripe. Finalmente, a Escola da Amazônia, projeto premiado internacionalmente, educa crianças e adolescentes da região do Arco do Desmatamento – área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, na qual mais se detectam queimadas no Brasil - em prol da conservação da natureza.
Em todos eles, por trás da preservação da fauna, está a conservação do meio ambiente. “O cara que protege o lobo-guará está agindo numa região e protegendo uma das espécies do Cerrado, mas tem interferência no Cerrado. O Cerrado sem o lobo-guará é um bioma empobrecido, e existe uma cadeia de consequências”, disse o diretor executivo da SPVS.
Para Clóvis Borges, a presença do animal ou da ave serve de medida para a qualidade do ambiente local. “Hoje, você não trabalha com quantos lobos-guarás salvou, mas pode ter [os animais] como indicador de que, nessa região de abrangência, o Cerrado está conservado de tal maneira que tenho água e outros recursos para ajudar no equilíbrio climático e a polinização da agricultura do entorno”, explicou.
A proposta do projeto, batizado de Empreendedores da Conservação, é viabilizar um pagamento pelos serviços ambientais. “O programa busca projetos que estejam em curso, com capacidade técnica incontestável e liderança do executor. Procuramos esses projetos e oferecemos um desafio que é enxergar o projeto com visão mais estratégica, para que o grande resultado obtido ganhe escala”, explicou Borges.
De outro lado, a SPVS procura, na iniciativa privada, quem está disposto a investir nesses projetos. “O investimento convencional é insuficiente. São para projetos tradicionais”, disse. Mas Clóvis Borges garante que o objetivo não é o de simples filantropia. Os seis projetos, por exemplo, são apoiados pela HSBC Seguros com investimentos de R$ 3 milhões.
“Temos que sair da lógica de que estamos ajudando os passarinhos e o próximo. As empresas pensam hoje em fortalecimento de marca e na gestão ambiental mais qualificada. A busca pela sustentabilidade de uma empresa passa pela conservação da biodiversidade”, afirmou. Por isso, conclui, em vez de filantropia, trata-se de “um reposicionamento no mercado, que vai cobrar isso no futuro. Isso é economia verde séria”.
Borges agora quer conquistar o apoio do Ministério do Meio Ambiente, onde esteve hoje (1) para apresentar o projeto e conquistar a chancela oficial que garanta algum tipo de apoio institucional para que as empresas privadas participem desse modelo. “Esse é o papel do terceiro setor. Isso pode virar uma planilha econômica”, explicou.
Edição: Davi Oliveira