Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Comunidade pacificada desde dezembro de 2009, o Morro do Cantagalo, em Copacabana, abriga desde abril o embrião de um projeto de gestão ambiental que fará parte da programação paralela da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
O projeto Geopolítica da Natureza, resultado de uma parceria entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Associação de Moradores do Cantagalo, prevê ações que serão implantadas em quatro fases, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância ambiental de seu entorno e como usar os recursos naturais em seu proveito, com o mínimo de prejuízo ao meio ambiente.
Idealizado pelo professor Luís Henrique Camargo, do Departamento de Geografia da Uerj, o projeto teve uma experiência piloto em 2007, no município de Guapimirim, na região metropolitana do Rio de Janeiro. No Cantagalo, o projeto ainda está na primeira de suas quatro fases. “Estamos aplicando, aos moradores, um questionário elaborado com base na chamada 'geografia da percepção'. A finalidade é conhecer como a comunidade percebe o seu ambiente local e também suas potencialidades. Com isso, pretendemos democratizar o processo que será usado na quarta fase, que é a da geração da rede ecológica”, explica Camargo, que coordena o projeto no Morro do Cantagalo.
Segundo ele, o engajamento da comunidade é fundamental para o projeto. “Ao aplicarmos o questionário, a gente quer saber, em primeiro lugar, se a comunidade quer ou não ter empregos ecológicos e como ela entende questões como reciclagem, utilização de banheiro seco, de filtros ecológicos”. A segunda fase é a da documentação fotográfica dos problemas ambientais, para que, na terceira etapa, um curso de gestão ambiental forme agentes comunitários.
“As aulas serão de educação ambiental, geografia e de permacultura, que é a cultura permanente, um modo de reinventar a relação sociedade e natureza no âmbito da própria comunidade”, conta o coordenador. O uso de tecnologias ecologicamente corretas, como a bioconstrução e a agricultura orgânica, faz parte da permacultura. A quarta fase, que depende mecanismos como parcerias para a sua implantação, consiste na criação de uma rede de negócios ecológicos em toda a comunidade. “Essa rede é fundamental para que cada comunidade produza e faça circular o seu produto”.
O projeto também tem como objetivo a manutenção do equilíbrio ambiental do planeta. Autor do livro recém-lançado A Geoestratégia da Natureza: A Geografia da Complexidade no Combate às Possíveis Mudanças Geológico-Ecológicas, Camargo defende a inexistência de mudanças climáticas no planeta. Para ele, há um rompimento do equilíbrio e dos padrões ambientais. A tese, baseada na física quântica, já era defendida em sua obra anterior, A Ruptura do Meio Ambiente, publicada em 2005.
Para o professor, “quando nós falamos em mudanças climáticas estamos nos referindo apenas a um fragmento da totalidade. O pensamento quântico não vê jamais as questões de forma fragmentada. Ele percebe a totalidade em sua interconectividade geral”. Ele considera que se o clima está sendo alterado no mundo é porque é fruto de todas as variáveis ambientais – solo, vegetação etc. São variáveis, segundo Camargo, que estão evoluindo em um determinado local. “Em contraponto à física clássica, newtoniana, o pensamento quântico traz a ideia de que todos os elementos da natureza estão intrinsecamente conectados, portanto não adianta você tratar só do clima”, explica.
Na visão do professor da Uerj, reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera não significa conseguir diminuir o aquecimento global na mesma proporção. “É um erro crasso achar que, reduzindo a emissão de gás carbônico na atmosfera, se conseguirá, linearmente, diminuir o aquecimento. Os processos evoluem por um aumento de complexidade. Se eu jogo gás carbônico na atmosfera, isso provoca reações também no solo, na vegetação, porque todos esses elementos vão procurar sua reação de equilíbrio”.
A escolha do Morro do Cantagalo para implantar o projeto Geopolítica da Natureza, após a experiência-piloto em Guapimirim, não se deve apenas à visibilidade dessa comunidade, situada na zona sul carioca e no roteiro da programação paralela à Rio+20. “A escolha foi estratégica, em função de variáveis que possibilitam o nosso trabalho, como a existência de uma UPP [Unidade de Polícia Pacificadora]”, diz Camargo.
Edição: Lana Cristina