Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Pelo menos 700 pessoas, de acordo com a Polícia Militar, participaram da segunda edição da Marcha das Vadias, que percorreu hoje (26) a na região central da capital paulista. O objetivo da manifestação é denunciar os diversos tipos de violência sofridos pelas mulheres. A marcha luta também contra a culpabilização das vítimas pela violência sofrida.
A organização já esperava que mais de 400 pessoas comparecessem, já que no ano passado esse foi o número estimado de participantes. A concentração aconteceu na Praça do Ciclista, no canteiro central da Avenida Paulista, próximo à Rua da Consolação. A manifestação percorreu toda a Rua Augusta, até a Praça da República.
A passeata foi marcada pela irreverência de grande parte das participantes, que desfilaram usando roupas íntimas e até mesmo nuas da cintura para cima, com o corpo coberto por pinturas e palavras de ordem. Outras usavam roupas decotadas e curtas. A manifestação foi pacífica.
Além de São Paulo, a marcha aconteceu simultaneamente em outras 19 cidades do Brasil e do mundo, incluindo Toronto, no Canadá, onde o movimento começou. Entre as cidades brasileiras que participaram do protesto estão Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, São Paulo, São Carlos (SP) e Sorocaba (SP).
De acordo com a historiadora Gabriela Alves, que auxiliou na organização em São Paulo, o movimento não teve uma liderança centralizada e os participantes foram mobilizados pelas redes sociais, o que foi definido por ela como “organização horizontal”.
O movimento começou no ano passado, em Toronto, depois de um policial declarar em uma palestra, em janeiro de 2011, na Escola de Direito Osgode Hall, sobre segurança para os estudantes, que as mulheres não deveriam se vestir “como vadias”, para evitar o estupro.
A partir disso, as estudantes da universidade foram às ruas para protestar contra a opinião do policial e conscientizar a sociedade de que a culpa pelo estupro não deve ser da vítima e nem estar associada ao modo como se veste ou se comporta.
“Aqui em São Paulo, participam mulheres de diversos grupos feministas, GLBT [sigla de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros] e simpatizantes da causa. A participação é muito heterogênea, porque é uma marcha que gira em torno do corpo da mulher, da mulher livre e contra a violência sexual, por isso a empatia de um grande número de pessoas é mais do que natural e bastante espontânea”, disse Gabriela.
A psicóloga Janaina Leslão Garcia contou que participa da marcha devido ao histórico do ato e avaliou que é um absurdo que, em 2012, as mulheres ainda sejam culpabilizadas pela violência sexual que sofrem.
“Nós sofremos violência dia a dia da mídia, que nos vê como objeto de consumo sexual, e na hora que sofremos uma violência, a culpa é nossa porque estamos com decote, uma roupa curta. Nós não temos que ensinar as mulheres a não serem estupradas, e sim os homens a não estuprarem”.
Também psicólogo, Márcio Aloísio de Oliveira resolveu participar porque acredita que o feminismo não cabe só às mulheres. “Isso também pode de certa forma me libertar, se eu me livrar dos meus conceitos antigos de achar que o homem é que domina em tudo, que está na frente de tudo”. Para ele, a humanidade vive um período no qual os costumes mudam quando há visibilidade para as questões polêmicas.
Felipe Pessoa, pesquisador, também participou da marcha porque avalia que a sociedade ainda tem valores machistas que acabam sendo repressores até para o homem. “O homem tem que ser o machão, o pegador, e o feminismo vem libertar o homem desse modelo. Tanto a mulher deve ser respeitada e ter liberdade quanto o homem, que pode ser delicado e ter sensibilidade”.
Formada em física pela Universidade de São Paulo (USP), Maíra Goes Nunes se mostrou indignada pelo fato de as estudantes dessa instituição ainda precisarem da companhia masculina para deixar o campus, devido ao risco de serem estupradas.
“É um absurdo eu ter medo por ser mulher. Com a marcha, pelo menos nós chamamos a atenção para o fato de o problema ainda existir. Não pode acontecer e todo mundo ainda achar banal e parte do natural. Violência nunca é natural”.
Edição: Davi Oliveira