Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Movimentos sociais e ambientais que integram o Grupo Facilitador da Sociedade Civil na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) lançaram hoje (9), no Rio de Janeiro, a campanha nacional Não à Economia Verde. Entre os motivos da campanha estão as faltas de conceito de economia verde, de posicionamento crítico ao atual modelo econômico e da análise sobre a mudança da matriz energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis no rascunho zero da Rio+20.
A campanha contra a economia verde foi iniciada em abril deste ano, a partir do Fórum Social Temático realizado em janeiro, em Porto Alegre (RS). Ela foi proposta por Pablo Solon, ex-embaixador da Bolívia na Organização das Nações Unidas (ONU), e
Geneviève Azam, da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos (ATTAC). Em seguida, o Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS) e o Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia (SINFRAJUPE)
decidiram aderir e promover a campanha aqui no Brasil, que conta com o apoio da Abong.
As ONGs apontam que não existe, na verdade, uma definição do conceito de economia verde no rascunho zero (draft zero) apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no final do ano passado. Esse texto ainda se acha em negociação e serve de base para o documento oficial da Rio+20, programada para junho, no Rio de Janeiro.
De acordo com Ivo Lesbaupin, diretor da Abong, há um consenso de que a economia verde, tal como está sendo proposta pela ONU, não coincide com o que os movimentos sociais e ambientais consideram uma economia sustentável. “A gente acha que, como está sendo defendido no documento zero e em alguns estudos feitos pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o essencial, nessa proposta de economia verde, é utilizar os instrumentos do mercado para enfrentar a crise ambiental”.
O documento apela para as grandes empresas implementarem a chamada economia verde. Lesbaupin destacou, porém, que a participação de organismos multilaterais, como Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outros, representa, no fundo, “pintar de verde a mesma economia que nós conhecemos e que gerou o impacto ambiental. Não há nenhuma crítica no rascunho zero ao modelo produtivo e consumista que gerou a situação que vivemos hoje”, disse.
Lesbaupin disse ainda que o documento não traz nenhuma análise sobre a mudança da matriz energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, considerada pelas ONGs um elemento essencial no enfrentamento ao desastre ambiental. “Esse tipo de economia verde, a gente tem que combater”.
O diretor da Abong denunciou que a proposta apresentada no rascunho da ONU visa a precificar, ou seja, colocar valor monetário, nos serviços ambientais e nos elementos da natureza. “Nós consideramos que isso é extremamente perigoso. É levar o mercado para onde ele não está ainda, para tornar isso fonte de lucro”.
Os movimentos sociais e ambientais defendem, ao contrário, que esses espaços não podem ser privatizados ou mercantilizados, porque são bens comuns de toda a humanidade. “E a maneira de defender, de não destruir, é fazer com que os governos e os estados façam respeitar esses elementos que são fundamentais na natureza e os serviços ambientais. Não pode privatizar o ar, a água, serviços ambientais em geral”. A intenção é lançar a campanha “Não à economia verde” também em nível internacional.
A expectativa de Lesbaupin é que os negociadores do conjunto de países membros da ONU deverão chegar a um texto comum para debate na conferência oficial, no Rio. O receio, enfatizou, é que a economia verde “talvez seja o principal tema dessa proposta. Por isso é que nós estamos fazendo essa campanha”.
O seminário será aberto oficialmente esta noite, com uma conferência preparatória à Cúpula dos Povos, evento organizado pela sociedade civil que ocorrerá em paralelo à Rio+20. A ideia é mostrar a importância e o significado dos dois eventos no atual cenário social, econômico e ambiental mundial. Amanhã (10), quatro mesas redondas debaterão, além da economia verde, a cooperação internacional, a economia que as populações desejam e a sociedade alternativa que está sendo proposta, com a participação de ONGs estrangeiras.
Edição: Fábio Massalli