Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), secretarias municipais e estaduais, entidades públicas e privadas e moradores no bairro de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, realizam durante todo o dia de hoje (5) uma série de atividades culturais e sociais na Rua Leopoldo Bulhões, em uma região conhecida por atos de violência e trocas de tiros entre policiais e traficantes.
De acordo com o presidente da Associação de Moradores Parque Carlos Chagas, Paulo Raimundo, um dos coordenadores do evento, a população quer acabar com a impressão negativa sobre a Leopoldo Bulhões, que foi apelidada de Faixa de Gaza, em referência à região na Palestina que vive constantes conflitos armados.
“Existem aspectos positivos dessa região e dessa rua que não aparecem na mídia e que a maioria das pessoas não conhece. Por causa dessa conotação negativa, vários direitos de quem mora e passa por aqui são desrespeitados. Somos chamados de favelados, [dizem] que mendigamos. Por isso precisamos gritar para exigir esses direitos. Esse evento é um grito por direitos”, declarou ele.
Foram montados estandes para a venda de artesanato e de alimentação e para oferta de serviços como avaliação nutricional, divulgação de cursos e oficinas, esclarecimentos sobre tuberculose, hanseníase e dengue, cadastramento no Programa Bolsa Família e distribuição de livros, entre outros. Estão previstos também shows musicais, brincadeiras para crianças e apresentação de práticas esportivas.
O coordenador da Cooperação Social da Presidência da Firocruz, Leonídio Sousa Santos, que ajudou a organizar a festa, explicou que uma iniciativa similar ocorreu em 2004 e 2005 e que a Fiocruz e as entidades participantes pretendem realizar encontros como esses com mais frequência.
“São várias violações aos direitos civis, coerção à liberdade política, que tornam Manguinhos um território de exceção. Esperamos que, a partir dessa retomada, o movimento ganhe mais força, consiga manter uma agenda com as três esferas de governo e que esse evento se massifique para garantir a paz na região.”
O evento estava marcado para começar às 9h, no entanto, atrasou mais de uma hora devido à invasão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) à Comunidade do Arará, no início da rua, durante a madrugada, com trocas de tiros até as 8h. Isso impossibilitou a montagem do palco e o fechamento da rua no horário autorizado pela prefeitura.
A Fiocruz desenvolve uma série de projetos sociais de saúde na região, que é cercada por dezenas de favelas, onde vivem cerca de 80 mil pessoas, a maioria sem saneamento básico e serviços públicos, como coleta de lixo e iluminação pública. Embora algumas áreas estejam em processo de instalação de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a maioria ainda se encontra sob o domínio do tráfico.
Edição: Juliana Andrade