Pedro Peduzzi
Enviado especial
Altamira (PA) – O número das casas de prostituição em Altamira (PA) aumentou desde a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Basta uma conversa com qualquer taxista da cidade para saber que, a toda semana, chegam moças – em geral, na faixa dos 20 anos – perguntando a localização desses estabelecimentos e interessadas em aproveitar a oportunidade de lucrar com a presença dos milhares de novos habitantes.
Estimativas da prefeitura de Altamira apontam que a cidade, que tinha pouco mais de 99 mil habitantes em 2010, abriga atualmente cerca de 145 mil pessoas. Só nas obras da usina há, atualmente, cerca de 8 mil pessoas trabalhando. Deste total, 75% são homens e 40% vieram de outros estados. Em 2013, ano de pico da obra, o número de operários deve chegar a 23 mil.
Boa parte desses trabalhadores busca “prazer rápido e fácil” em locais como a Amoricana, a mais tradicional casa do ramo na cidade. “Antes só tinha a gente [trabalhando como casa de prostituição]. Agora há, no mínimo, mais sete casas”, disse à Agência Brasil, Célio*, que, junto com a namorada, é o responsável pelo negócio. “A gente faturava por volta de R$ 1 mil por dia. Agora, com a chegada da usina, a média fica entre R$ 2 mil e R$ 4 mil”, informou o jovem que, quando a casa está aberta, trabalha de garçom e segurança.
“Para eles [funcionários de Belo Monte], essa é a diversão que melhor alivia o estresse do trabalho pesado. Tem muito cara sozinho na cidade. Carente mesmo. Por isso, é muito comum vermos inícios de namoros entre trabalhadores contratados para as obras e moças da casa”, disse. Ele estima que 60% dos clientes da casa trabalham em Belo Monte.
Recém-chegada de Santarém (PA), Julia*, de 23 anos, está há 12 dias em Altamira, após ser convidada por uma amiga que dizia ganhar R$ 6 mil na cidade. "Das 14 meninas que trabalham aqui, só uma é de Altamira”, diz outra moça, que chegou à cidade após “fazer um dinheiro” em Mato Grosso e em Minas Gerais.
O preço do programa cobrado por todas as meninas entrevistadas pela Agência Brasil era o mesmo: R$150. Mas no começo do mês, quando os trabalhadores estão com o salário no bolso e o movimento aumenta, esse preço fica mais alto.
“A gente nota que eles não buscam apenas sexo. Muitos pagam apenas para conversar. Esses, aliás, são nossos clientes favoritos”, disse Kelly*, de 22 anos, vinda também de Santarém. “A maioria das meninas daqui veio da minha cidade”. Ela diz que consegue receber entre R$ 3mil e R$5 mil mensais fazendo programas. “Faço isso porque quero juntar dinheiro para comprar um terreno ou uma casa”, justificou.
Perto dali, outra casa de prostituição – essa, inclusive, com a tradicional luz vermelha à frente –, é administrada por três irmãs, donas de outros dois estabelecimentos semelhantes na cidade.
“A gente é meio psicóloga para essas pessoas [que foram a Altamira para trabalhar em Belo Monte]”, disse Luzia*, uma das irmãs, à Agência Brasil, enquanto entregava pulseiras às moças que passavam segurando copos com bebidas e energéticos pagos por clientes. “Essas pulseiras servem para a gente registrar o número de bebidas vendidas aos clientes e, depois, pagar a comissão das meninas”.
As três casas empregam, entre outras moças, 14 vindas de Rondônia. A proprietária, no entanto, desaconselha esse tipo de vida para as mulheres que pretendem ir a Altamira para ganhar dinheiro com programas. “É melhor vir para fazer um curso [profissionalizante] e tentar emprego em Belo Monte”.
É o que tenta fazer Diane*, que chegou há pouco mais de dois meses, vinda de Macapá (AP). “Já vim para cá pensando em trabalhar na usina”, disse ela, que já conseguiu vaga em um curso de soldadora promovido pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM).
“A vida com certeza será melhor. Vida trabalhando é diferente. Dinheiro é bom, mas nesse ramo a gente passa por um monte de constrangimento”. Fazendo programas, ela consegue lucrar quase R$ 3 mil mensais. No entanto, perguntada se vai abandonar os programas após conseguir trabalho na usina, é categórica: “Pretendo manter os dois empregos”.
“A primeira impressão que tive aqui é que é igual a um garimpo, com muitos homens vivendo para trabalhar e, nas poucas horas de folga, buscando prazer rápido e fácil”, disse Lia*. Quando chegou, há pouco mais de três meses, a garota de programa trabalhou em um bar onde a situação era bem mais complicada e arriscada do que a da casa em que trabalha atualmente.
“A gente não podia sair de lá nenhum dia da semana. E as pessoas que frequentavam eram muito ignorantes”, disse. Por motivos como esses, ela desaconselha qualquer mulher de ir a Altamira para tentar a vida fazendo programas. “Mas infelizmente a esperança de ganhar dinheiro fácil acaba atraindo a gente e a falta de preparo não nos deixa tentar outro tipo de trabalho”.
Tanto a prefeitura de Altamira quanto a Norte Energia, empresa responsável pela construção e operação da usina, dizem promover ações para evitar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis na cidade e nos canteiros de obra.
A prefeita Odileida Sampaio (PSDB) disse à Agência Brasil que “as secretarias de Saúde e de Promoção Social contam com equipes qualificadas que têm instruído essas moças sobre formas de evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e aids”. Ela, no entanto, diz que, por causa da falta de dinheiro, essas ações acabam limitadas a fazer apenas “o necessário do necessário”, inclusive no tocante à segurança pública.
Já a Norte Energia disse que “tem realizado ações de educação, prevenção e controle de DST/aids e prevenção de gravidez na adolescência”, conforme previsto no Projeto Básico Ambiental, e que, até o momento, 14 comunidades de Altamira foram beneficiadas com essas ações. Nos canteiros de obra, os trabalhadores “recebem treinamento, informações e orientações relativas ao comportamento ético e profissional”, que contribuem para a multiplicação das noções preventivas contra a exploração sexual.
* os nomes fictícios
Edição: Fábio Massalli
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