Escritores debatem experiências como cronistas em bienal do livro

16/04/2012 - 22h55

Da Agência Brasil

Brasília - A primeira edição brasiliense da Bienal Brasil do Livro e da Leitura trouxe hoje (16) escritores para debaterem suas experiências como cronistas. O debate A Nova Crônica Brasileira: Novos Cronistas, Novos Diálogos, mediada pelo jornalista Sérgio Maggio, contou com a presença dos escritores e jornalistas Humberto Werneck e Xico Sá, e também da escritora e psicanalista Diana Corso, que discutiram como o processo de criação de seus textos mudaram as suas percepções sobre assuntos cotidianos e os rumos da crônica no país.

Segundo Humberto Werneck, a inspiração para uma crônica pode se dar de um pequeno acontecimento de rotina, até mesmo banal. "A crônica vem de um fiapo de experiência. Você puxa esse fio sem saber o que vem. Quando termino uma crônica, eu me questiono: 'Meu Deus! Como cheguei até aqui?'”.

Werneck disse que não acompanhar muito o movimento das redes sociais na internet e que não escreve suas crônicas pensando na opinião de seus leitores. "Até como jornalista, eu nunca consegui pensar em 'quem é o leitor?'. Minhas crônicas são como garrafas jogadas ao mar. Se eu for o leitor, sei o que quero ler. Acho que, a partir de agora, vou começar a pensar um pouco sobre isso.

Para Diana Corso, as crônicas têm papel importante dentro da literatura, pois permitem que o leitor repare o que ocorre ao seu redor e se indague com questões que passam despercebidas. "O efeito da crônica no outro é produzir sensações", disse ela.

Sobre a preocupação com o que é escrito, Diana Corso se disse preocupada em como seus textos são interpretados pelos leitores. Para ela, a internet facilitou muito o processo de divulgação dos textos, aproximando-se mais ainda de seu público. "Crônica é a herança mais próxima de uma carta. Antes, meus interlocutores era um grupo de amigos. Hoje, a internet permite a proliferação desses encontros. É engraçado ter interlocutores que nunca encontrei".

Xico Sá disse que já teve problemas com algumas crônicas que escreveu. "Já tive problemas com algumas crônicas que escrevi, lá em casa, com minha mulher. Há uma cobrança do leitor, da minha mulher e de todo o mundo com a verossimilhança. Se escrevo algo sobre algum domingo, não precisa ser necessariamente o último domingo".

Durante o debate, outros autores de crônicas foram lembrados, como a escritora Clarice Lispector, uma das primeiras mulheres a escrever no estilo no Brasil. Werneck relatou um encontro que teve com a escritora, em 1968, onde deveria pedir uma colaboração de Clarice para um encarte do diário oficial do governo mineiro. Na ocasião, Werneck pediu que ela assinasse seu exemplar do livro A Paixão Segundo G.H..

"A Clarice como pessoa era intratável, muito difícil. Ela tinha uma voz estranha, que parecia ter um sotaque estrangeiro. Eu digo que entrei na literatura brasileira por causa dela, que assinou um livro para Chico Buarque com a caneta violeta que eu lhe dei", contou Werneck.

A bienal começou no último sábado (14) e segue até o dia 23 de abril, no canteiro central da Esplanada dos Ministérios.

 

Edição: Rivadavia Severo