Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A cada dois dias, uma pessoa morre no estado de São Paulo em decorrência de descarga elétrica. Em 2010, último dado consolidado da Secretaria Estadual de Saúde, foram registradas 167 mortes por choques elétricos. “Qualquer contato com a rede elétrica , seja ela caseira ou da rua, é considerado uma descarga. Pode ser com a corrente [elétrica] propriamente dita ou em situações em que você tem contato com algo energizado ou superaquecido por causa da passagem da corrente elétrica”, explicou Gustavo Feriani, supervisor médico do Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências (Grau) da secretaria.
Segundo ele, ao tocar um fio eletricado ou um campo energizado, a pessoa pode sofrer desde uma simples queimadura até lesões nos órgãos internos. “A corrente elétrica tem preferência por meio líquido. Ela conduz melhor a eletricidade em estruturas líquidas. No nosso corpo, ela vai passar exatamente nos órgãos que tem isso, nos vasos, nervos e músculos, preferencialmente. A eletricidade passa menos por ossos e pele. Muitas vezes temos uma pequena lesão na superfície da pele, mas, na sua profundidade, os órgãos internos podem estar bastante lesados”, esclareceu.
As descargas elétricas, lembrou Feriani, também podem provocar arritmias e paradas cardíacas, alteração da função do rim, lesões musculares e no sistema norvoso, com perda de movimento e, nos casos mais graves, fraturas ou lesões da coluna.
As principais vítimas das descargas elétricas são os homens. Do total de pessoas que morreram em 2010 em decorrência de contato com a rede elétrica, 157 eram homens, geralmente os responsáveis por fazer serviços de manutenção e reparos em residências. “O principal fator de risco é a pessoa que vai tentar puxar um fio de forma ilegal e conectar diretamente na fonte da rua, que vem com uma carga ou com uma voltagem muito alta. Além de fazer o reparo de forma ilegal ou sem conhecimento adequado, a rede não está desenergizada”, destacou.
Outro problema, lembrou o médico, é quando as pessoas pretendem fazer algum reparo doméstico e se esquecem de desligar o disjuntor. “Muitas vezes fazem isso com a chave geral ligada. A corrente dentro de casa nem é tão forte, mas as pessoas fazem isso de forma bem displecente, sem cuidados”, disse.
Além dos homens adultos, também preocupa a quantidade de crianças que se envolvem em acidentes elétricos. “As crianças brincam de empinar pipa muito perto da rede elétrica e são várias as vítimas que recebem a descarga por causa dessa atividade. E acabam sofrendo descargas muito graves”, disse.
A dica do médico é que, ao mexer com a rede elétrica dentro de casa, as pessoas se lembrem sempre de desligar o disjuntor (que corta a energia que chega da rua), usar material de isolamento, como luvas emborrachadas e calçados apropriados. Também é preciso retirar joias e bijuterias, como brincos, colares e anéis, e nunca fazer esse tipo de serviço em ambientes molhados ou úmidos. Outra dica é jamais tentar puxar os fios da rede pública. “Peça ajuda do órgão competente para fazer isso porque a voltagem que sai da rua para dentro das casas é muito alta. Quanto maior a intensidade, maior o risco de morte”, alertou o médico.
Em caso de choque elétrico, é fundamental que, primeiro, se tente desligar a rede para, depois, procurar socorro. “É fundamental as pessoas terem certeza de que a pessoa que tomou a descarga não está mais em contato com a rede elétrica. Se a pessoa que for ajudar tocar na pessoa que está em contato com a rede elétrica, ela vai receber o mesmo choque e ter as mesmas lesões, se tornando uma segunda vítima. Se for em casa, desligue a rede. Se for na rua, chame a empresa responsável pela energia elétrica”, falou Feriani.
Edição: Vinicius Doria