Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A repetição da tortura como expressão do autoritarismo ao longo do tempo é o tema central da peça Torquemada – 17 Balas, que estreia na noite deste sábado (31), no Teatro Coletivo, na Rua da Consolação, região central de São Paulo, e tem entrada gratuita. O texto é uma releitura da obra do dramaturgo Augusto Boal, escrita depois de ser preso e torturado pela ditadura militar, em 1971, e que faz alusão ao inquisidor espanhol Tomás de Torquemada.
“Torquemada - 17 balas é exatamente o resquício nos dias de hoje, da ideia de que essa violência por parte do Estado continua existindo, principalmente na periferia”, disse a coordenadora do projeto, Yara Toscano, sobre os elementos que foram acrescentados à obra original.
O espetáculo, além de mostrar os impactos da tortura como maneira de repressão do pensamento e do indivíduo, expõe a construção do discurso ideológico que sustenta a prática. Ideias que, como mostra o enredo, sobreviveram à queda do regime militar e continuam alimentando a opressão na sociedade brasileira.
Após fazer um retrato dessa opressão, o espetáculo abre espaço para que o público discuta o tema e, em seguida, suba ao palco para buscar uma solução para o conflito apresentado. Segundo Yara Toscano, essa construção segue a fórmula do Teatro do Oprimido, proposto por Boal.
Por isso, o projeto busca levar os mais diferentes públicos para assistir as apresentações. “Jovens da periferia, jovens do centro, movimentos organizados, representantes do governo. Para poder aprofundar a questão de como têm resquícios do regime militar hoje em dia”.
O projeto também inclui uma oficina de teatro, que ocorrerá no Teatro da Universidade de São Paulo (Tusp) e divulgação e discussão em redes sociais. “Para as pessoas poderem, virtualmente, continuar dialogando, sobre a Comissão da Verdade, sobre o regime militar e esses resquícios que você tem hoje em dia”, ressaltou a coordenadora que lembrou que o projeto passará por 11 cidades.
Torquemada – 17 Balas recebeu incentivo do projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça. “Essa composição atual da Comissão de Anistia entende que tem que cumprir o seu papel histórico previsto na lei, que é reparar os danos causados [pela ditadura militar], mas também fomentar o debate sobre a verdade, sobre a memória do nosso país”, ressaltou um dos conselheiros da comissão, Egmar José de Oliveira.
O texto foi alterado para correção de informação às 16h10
Edição: Rivadavia Severo