Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil*
Brasília - O capitão Amadou Sanogo, líder do golpe militar na República do Mali, na África Ocidental, informou hoje (23) que o presidente deposto está bem e que os ministros detidos pelos golpistas vão ser entregues à Justiça do país. Ele assegurou que não querer ficar no poder, quer apenas “salvar o país”.
Em entrevista a um grupo de jornalistas, em um quartel em Kati, a 15 quilômetros de Bamako, onde se desencadeou o motim de quarta-feira na origem do golpe, Sanogo disse que o presidente deposto Amadou Toumani Touré está seguro e “passa muito bem”, mas se recusou a divulgar a localização do chefe de Estado.
Membros da equipe de Touré disseram ontem (22) que o presidente está sob a guarda da unidade de proteção presidencial em um quartel. A informação não foi confirmada até ao momento. A diplomacia francesa informou que não conseguiu ainda manter contato com Touré.
No ataque dos militares amotinados ao palácio presidencial, na noite de quarta-feira (21), vários ministros foram detidos. “Essas pessoas estão sãs e salvas. Não vamos tocar em um fio de cabelo que seja. Vou entregá-las aos tribunais para que o povo maliano saiba a verdade”, disse o capitão Sanogo.
O lpider golpista condenou pilhagens feitas por alguns militares que participaram no golpe e que usaram, inclusive, veículos oficiais. Mas assegurou que parte do vandalismo foi praticado por civis que vestiram uniformes com o objetivo de responsabilizar os militares. “Peço à população que nos perdoe por qualquer incômodo que tenhamos causado e apelo para o fim das pilhagens”, disse.
O motivo do golpe, explicou, não foi a insurreição tuaregue (povo nômade do Deserto do Saara) no Norte do país, mas um mal-estar generalizado em relação ao governo. “Quando um Estado tem quase 50 anos e, infelizmente, as Forças Armadas e a segurança dispõem de condições reduzidas para defender o território, estamos perante um fracasso”, disse.
Em outra entrevista, transmitida pela televisão maliana, Sanogo disse que os rebeldes tuaregues podem alistar-se no Exército maliano, caso contrário, serão enfrentados com firmeza. “É possível que esses grupos estejam combatendo por não estar de acordo com o governo. Vou dar-lhes a oportunidade de se juntar a nós, caso contrário, eu farei face ao que tiver de fazer face”, disse. “Não sou um homem da guerra. Não estou aqui para me armar, armar o exército do Mali e matar quem me aparecer no caminho. Não sou esse tipo de pessoa”, acrescentou.
Amadou Sanogo assegurou que não quer permanecer no poder e que a intenção é entregá-lo ao governo que será formado “depois de consultas a todas as forças vivas do país”. O golpe foi necessário para “salvar o país”, reiterou o autoproclamado chefe do Comitê para o Restabelecimento da Democracia e a Restauração do Estado.
Ao anunciar a tomada do poder na quinta-feira (22), os militares informaram que dissolveram as instituições e suspenderam a Constituição. A mensagem foi transmitida à população por meio das emissoras de rádio e TV. O país, com pouco mais de 12 milhões de habitantes, mantinha um regime denominado semipresidencialista, comandado pelo presidente, Amadou Toumani Touré, e pelo primeiro-ministro, Cissé Mariam Kaïdama Sidibé. Mali ficou independente da França em 1960.
De acordo com militares que participaram do golpe, houve embates com a guarda presidencial. As sedes das emissoras de rádio e televisão estatais foram ocupadas.
*Com informações da Agência Lusa
Edição: Vinicius Doria
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