Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma estrutura em forma de octógono montada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro vai abrigar, a partir de hoje (23), uma montagem contemporânea de Vestido de Noiva, a peça mais emblemático de Nelson Rodrigues, no ano em que se comemora o centenário de nascimento de um dos principais dramaturgos brasileiros. A estreia para convidados será às 21h.
A ideia da companhia Circo de Estudos Dramáticos, responsável pela montagem, foi transformar a rotunda (construção em forma circular) do CCBB no cabaré de Madame Clessi, ambiente principal da trama, que transcorre em três planos interligados – alucinação, memória e realidade. Encenada pela primeira vez em 1943 pela companhia Os Comediantes e sob a direção de Ziembinski, Vestido de Noiva revolucionou a linguagem teatral no país e marcou o surgimento de uma dramaturgia cheia de brasilidade e urbana. “Até então, as companhias de teatro eram centradas na figura do protagonista, não havia uma preocupação com a direção e nem cuidados estéticos”, lembra o diretor da nova montagem, Caco Coelho.
A peça narra o trágico amor de duas irmãs, Alaíde e Lúcia, pelo mesmo homem, Pedro. A história começa com o atropelamento de Alaíde e se passa durante o tempo em que ela está sendo operada. Em suas alucinações, ela conversa com a prostituta Madame Clessi, de quem leu o diário ao se mudar para a casa que durante 37 anos abrigou um bordel. A trama é centrada na dualidade entre as irmãs: uma deseja viver com o marido as aventuras contadas pela prostituta e a outra espera o momento de revelar o caso que mantém com o cunhado.
Na encenação do Circo de Estudos Dramáticos, o público é convidado a ingressar na estrutura, ao som de samba, diretamente no plano da alucinação, que ocorre no mesmo nível da plateia. Em forma de arena, o espaço pode abrigar 120 espectadores. Já o plano da memória é dramatizado em três platôs suspensos ao longo de uma escada que vai do palco até a abóboda da rotunda. Na parte de cima da arena, a uma altura de 6 metros, uma estrutura que contorna o palco principal serve de base para o plano da realidade.
Os planos em que é dividida a peça foram originalmente desenhados pelo irmão de Nelson, Roberto Rodrigues, artista plástico assassinado em 1929, na redação do jornal A Manhã, de propriedade do pai, Mario Rodrigues. O episódio foi muito marcante na vida do futuro dramaturgo, na época com apenas 17 anos. “O grito de atropelamento de Alaíde é o mesmo grito de morte do irmão, que se cravou em Nelson de forma definitiva”, diz o diretor, Caco Coelho, considerado um dos principais pesquisadores da obra teatral do dramaturgo.
O elenco tem nos papéis principais as atrizes Viviane Pasmanter, no papel de Madame Clessi, Renata de Lélis (Alaíde) e Sara Antunes (Lúcia). O cenário é de André Cortez, com a supervisão de Daniela Thomas. O figurino é assinado por Beth Filipecki, e a iluminação, por Ricardo Fujii. Como a representação se dá de forma vertical, o elenco teve aulas de parkour, atividade física que ensina a pessoa a se mover de um ponto a outro de maneira rápida e eficiente (a arte do deslocamento).
Haverá apresentações de quarta-feira a domingo, às 21h, até 6 de maio. Durante o dia, o público poderá visitar uma exposição multimídia montada na parte de baixo da estrutura, com oito telas que exibem informações e imagens sobre o Rio de Janeiro, o ambiente político e as personalidades do período que vai de 1905 (época do bordel de Madame Clessi) a 1943, ano em que a peça foi escrita. O CCBB fica na Rua Primeiro de Março, 66, no centro do Rio. Os ingressos para a peça custam R$ 6 e a exposição tem entrada grátis.
Já iniciadas com a exposição Nelson Brasil Rodrigues, em cartaz no Teatro Glauce Rocha, também no centro da cidade, as comemorações pelo centenário no Rio de Janeiro terão o ponto alto em agosto, mês de aniversário do autor, com o festival A Gosto de Nelson. Iniciativa da Fundação Nacional de Arte (Funarte), o festival terá montagens das 17 peças do dramaturgo.
Edição: Juliana Andrade